sábado, 5 de abril de 2008

ENCAFIFADO: PRESSÃO 17 POR 11

1. Diante de tamanhos e diários horrores, penso: os animais devem ter alguma espécie de inteligência - a que lhes serve. O que não sei, cá comigo, é para que serve a propalada, humana.

2. Toda generosidade é bem interesseira. Ocorre que os interesses, singular ou plural, estão muito bem ocultos. Até mesmo do próprio generoso. Essa sobredita "virtude" vinha sendo pensada como exclusivamente humana - algo que nos faria diferentes dos primatas, por exemplo. Recentemente, notaram que ela pode muito bem existir entre alguns deles. Verificaram. Pergunto-me: nestes, o interesse também é muito bem escondidinho?

3. Às vezes, bate-me a sensação de que já nascemos prontos. O que somos sempre fomos. A perspectiva de uma mudança extrema de rumo em nossas vidas, uma ilusão, um truque. Como o jogo entre o trem e a paisagem. Para quem nele viaja, é a paisagem que passa; para esta, é o trem. Em nosso caso, quem é o trem? Quem, a paisagem? Já que prontos, o tempo é o que passa. Deixar de fazer isto ou aquilo, não nos torna outro. Para os outros, sim; somos outro. Em nós, não; os outros é que continuam sendo os mesmos outros. Prontos todos, no mesmo trem, a deslizar naquela mesma paisagem, sempre outra, enquanto o tempo passa num cenário que é sempre o mesmo: um trem riscando uma paisagem, para o todo e sempre. Amém.

4. Embora a preguiça seja essencial, pense nessas palavras de George Steiner (em No Castelo do Barba Azul - algumas notas para a redefinição da cultura): "O mito da Queda tem mais força que qualquer religião específica. É difícil encontrar uma civilização, ou até mesmo uma consciência individual, que não traga em si uma resposta às sugestões de uma sensação de catástrofe distante. Em algum ponto, tomou-se o atalho errado naquele 'escuro e sagrado bosque', após o que o homem tem tido de trabalhar, social e psicologicamente, contra a tendência natural do ser".