quinta-feira, 10 de abril de 2008

ELUCUBRAÇÕES

1.
Depois de lidas, mais, muito mais de milhares de palavras em séries sucessivas e articuladas - é o que chamam "texto" - desconfiamos que algo ali se repete, mas não conseguimos identificar, por maior que seja o esforço. O que não identificamos e se repete é o que chamam "estilo". Mas não estou tão seguro.

2. Essa situação: na conversa amena e divertida de sempre, ela, atrasada, desaba, pisoteando. Então se senta e - não sei como consegue - segue atropelando mais uns vinte ausentes. Sem nem se perguntar se pode.
Embora não gostemos muito, ou quase nada, ou nada, nós relevamos, ou melhor, nos calamos, já mudos. Paralisados pela covardia de não nos levantarmos; nunca nos levantarmos e sairmos. Como se lá estivéssemos sob o tacão de uma sentença perpétua. Mastigamos, pouco a pouco, a manhã que se espreguiça ainda. Assim, ficamos - a prisão do hábito - ouvindo-a falar um falar monótono e sem fim. É a vez dela - como sempre, é a vez dela; se não for, ela faz que seja, para o todo e sempre.
Juntamo-nos, quatro, àqueles vinte sempre inexistentes. Por quê?!

3. Transtorno de sono: eu hoje acordei a uma da manhã e não mais dormi. Eu, hoje, quase acordei ontem. Não é interessante pensar nisto: dormir ontem e acordar ontem? E não é mais interessante ainda pensar que a linguagem, como todas as convenções, nos cria armadilhas engenhosas, tendo em vista que o tempo é, em nossa cultura, uma linha seguindo inexoravelmente em frente, sem volta? No limite, como dormir hoje e acordar ontem?! Não sei, mas vou conseguir.