sexta-feira, 23 de março de 2012

ECONOMIA


Como sou um caminhante convicto (mas não fanático), observo muito o chão e os seres que o habitam, ainda que aos percalços; em São Paulo, para andar nas calçadas, é preciso ser um pouco lebre. Pois bem, têm me chamado a atenção as guimbas atuais. Elas são a expressão da sovinice moderna - bitucas mesquinhas.

Explico: há certo tempo, eram generosas. Qualquer um, em petição de miséria, poderia delas se servir, numa espécie de duplo uso para os cigarros. Ou: um jeitinho no combate à desigualdade social ao rés do chão. Percebam o "dó de peito" daquelas guimbas e cigarros: cumpriam uma função social e atendiam ao meio ambiente ( o duplo uso). Não é lindo?! Mas andei pensando mais.

Economistas não são mamíferos confiáveis, como não são suas brutas estatísticas cuja origem ignoramos. Seus prognósticos são uma "piada pronta", nunca os leve a sério. E o que pensar de seus indicadores econômicos? Entendeu agora por que suas falas e escritos são ilegíveis? São esotéricos e você é um apedeuta. Avancei na reflexão.

As guimbas são os melhores e mais confiáveis indicadores econômicos, basta "lê-las". E o que elas "dizem" sobre os dias que correm? Ouça com carinho: "A grana anda tão curta que não é conveniente desperdiçar cigarros (ignore os doidinhos do antitabagismo). Fumar é até o fim, e que se danem os miseráveis, tolos vigilantes do chão das ruas. As bitucas de hoje são a coisa mais triste que se pode ver nas calçadas paulistanas. O moderno extremado não queima os cigarros, queima logo os mendigos.

terça-feira, 20 de março de 2012

FEVEREIRO E MARÇO

Três horas da manhã. Faltavam limões. Todas as calçadas e calcinhas estavam molhadas. Chovia nas solas. Dois abacates presenteados e muita fome. Uma mulher, quatro uísques e pouca literatura.

Não gostava mesmo da esquina depois da qual o piso se inclina e uma ladeira perversa se forma a turvar-lhe o horizonte, a moer-lhe o joelho esquerdo. Odiava que sua atenção se prendesse apenas aos pés e pernas. Era um homem de largas luas e aliterações obsessivas. Literatura vagabunda e estômago desorientado.

Cobriu o pijama com as roupas da cadeira. Olhou aquele corpo na cama, apagou as luzes, trancou a porta e se movimentou para os elevadores. Quase no térreo, viu: ainda portava um par de chinelos e um pé de meias furado. Voltar? Não, ir assim mesmo. Quem é que liga? Argh! Dois limões e uma ladeira. A passagem para março de um ano ainda interminável. Puta que pariu!