quinta-feira, 9 de agosto de 2007

E a Sala de Aula, Cara Pálida?!

Muito se tem escrito sobre a percepção do tempo no homem ocidental contemporâneo depois que a televisão incorporou-se a seus hábitos de vida, desde a infância. Se vem sendo “prisioneiro” de uma cultura – a judaico-cristã - em que o tempo é percebido de forma linear – o passado que se desdobra em direção ao futuro; se a sociedade de consumo o amarra à lógica da acumulação, a exposição constante ao fluir das imagens em vídeo, que o leva de volta a uma espécie de nova oralidade – uma imagem substituindo, em fluxo, outra que não mais existe após sua emissão, à maneira da palavra na comunicação oral, esta exposição produz, nele, a perda daquela memória que nos fazia permanecer em retorno recorrente para definir o caminho dos passos seguintes. O homem fica compactado num tempo que é unicamente presente. Como as imagens, tudo, inclusive ele próprio, se substitui, porque tudo se equivale. O edifício do mundo representado se des-hierarquiza e ele cai, então, num vazio de sentido constitutivo, sua identidade é pulverizada. Agora em vez de sempre, esfaimar-se em vez de ser, a vida reduzida a perda e ganho.

Laymert Garcia dos Santos apresenta nesses termos: “Socialmente, portanto, o direito de existir passa a coincidir com o direito de consumir. Consumir não mais por necessidade, mas por ansiedade. Com efeito, se a identidade social de cada um se afirma na esfera do consumo e se paira no ar a incerteza quanto ao futuro e a ameaça da exclusão, como não vincular a estratégia do consumo à estratégia da sobrevivência? Consumir e sobreviver reforçam-se mutuamente. Pois tanto o consumo quanto a sobrevivência dependem do grau de inserção do sujeito na dinâmica acelerada imposta pela união da tecnociência e do capital global. Para sobreviver, bem como para consumir, é preciso correr contra a crescente obsolescência programada que as ondas tecnológicas e a altíssima rotatividade do capital reservam para pessoas, processos e produtos. Para sobreviver, bem como para consumir, é preciso se antecipar. (...) Trata-se de privilegiar o virtual, de fazer o futuro chegar em condições que permitam a sua apropriação, trata-se de um saque no futuro e do futuro ...”

Milton José de Almeida faz assim: “A sociedade moderna, apesar de muitas vezes parecer o contrário, é uma sociedade oral. A leitura e a escrita nesse tipo de sociedade são, como tendência, mais operativas e funcionais, não têm como objetivos a reflexão e a criação, mas a instrução e o cumprimento de diretrizes. Uma sociedade oral é estranha à literatura e à poesia escritas, às histórias escritas, mas não a histórias e mitos. As histórias-em-imagens filmadas são um prolongamento e um acréscimo visual das histórias faladas. Uma sociedade oral tem no ouvir incessante e no olhar exterior a fonte única de informações, valores, conhecimentos, comportamentos a serem imitados. Sons da fala ou do mundo e imagens fundem-se na construção mimética da subjetividade do homem urbano, cuja maioria lê pouco, ouve, vê e fala muito, imerso numa eterna infância da cultura.”

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