quarta-feira, 19 de outubro de 2011






DOCE RECOLHIMENTO

Leio, preferencialmente, deitado. Horas a fio. O mais longe possível do mundo que me enerva. Na definição de minha irmã, meu lar é uma caverna.

Próximos apenas a água (eventualmente vinho), cigarros e dicionários. Bêbado de silêncio, este útero da vida madura.

Vez ou outra, aconteço de adormecer, por instantes, com o livro no peito e óculos nos olhos. Ao despertar, noto que me esqueci de que era mesmo que lia. Mas um leve e teimoso esquecimento.

A memória permanece ainda adormecida, privada de um detonador adequado que a libere da trava dos sonhos. Fico à mercê de um palito de fósforo úmido, que não inflama o processo de lembrança. Não adianta, risco-o e nada.

Descobri, então, que me basta qualquer linha dos parágrafos que, instantes antes, me acompanhavam na viagem para meu maior prazer - o detonador.

O esquecimento entra em combustão, a memória - um trem desajeitado - inicia seu movimento e inundo-me daquela alegria serena que, atrevida, fugiu-me da cama e da alma para o escuro do sono.

Viro a página e sigo em contubérnio com as palavras.

outubro de 2011

Um comentário:

Berzé disse...

Muito bom pra começar mais(menos) um dia.
Abraço!
Berzé