sábado, 25 de outubro de 2008

A MESMA VELHA HISTÓRIA

Não é assim;
Poderia ter sido assim;
Pode ter sido assim;
Poderá ter sido assim.
Se for assim. Mas...

"A verdade da ficção se conta com mentiras [diria: representações]. O que interessa /na ficção/ é que a história seja verdadeira [diria: verossímil], não que ela seja real". (Bráulio Mantovani*)
Bem, ser a história verdadeira já é uma impossibilidade, quase um paradoxo. A "verdade" só pode existir como tal enquanto história - em nós, como representação. E aí, não é "verdadeira". Difícil? Não, impossível. Ela, a "verdade", estará, intangível, do outro lado do espelho; simétrica no espelho, invertida na retina, arranjada no cérebro e perdida para sempre. Não pergunte aos homens, mas às galinhas. Aqueles precisam de certezas, convicções; Estas não estão nem aí.

- O trem já partiu, senhor! Não haverá viagem. Sinto muito, o senhor perdeu o trem.

Ainda o senhor Bráulio: " (...) é irrelevante se a matriz [diria: motivo] de uma história tem sua origem em acontecimentos reais [sic] ou em um romance ou em um sonho ou em qualquer outra coisa". Pois sim, dá no mesmo, todos se equivalem. Concordamos aqui. Mas, [ainda B.M.] "as mentiras que contei produziram um efeito de verdade". O que é a verdade, homem branco?

(De outro modo)
Por volta das 21h, ao telefone, indagou tranqüilo o potencial viajante:
- Por favor, o senhor poderia me informar se o trem das dez está no horário?
- A qual dez horas se refere o senhor?
- Dez da noite, é claro!
- Lamento informar-lhe, mas o trem já partiu.
- Mas, como, se ainda são nove horas?!
- Sem viagens ou viajantes. Unicamente, um trem, sem maquinista, rasgando a paisagem.

As pessoas não se cansam. Insistem no escuro opressivo das plataformas; no silêncio infinito dos telefones, no atravessar oblíquo dos olhares que se encaram, das faces que se enfrentam.

* Roteirista cinematográfico de origem brasileira; autor de "Cidade de Deus" e "Última parada - 174", filme (ficção sobre documentário) dirigido por Bruno Barreto, em cartaz nos cinemas.

P.S.: usei as declarações de B.M. à Folha de S. Paulo (24/10/2008) apenas como mote para velhas indagações minhas. Nada contra.