sábado, 28 de junho de 2008

ALERTA

Na praça da Sé, cinco horas da manhã, frio, um pedaço de bolo na mão, copinho de café pavoroso. Em pensamento, na neblina de sonhos*, um confronto de nocões: a de Da. Lavínia* e a de uma personagem, num filme qualquer, numa madrugada qualquer. A primeira, em sua infância: "Gostava de correr mais que de ouvir histórias."; a segunda, adulta: "Experiência é ótima. Use. Não a deixe usá-lo." Retiro os óculos, deposito, sobre meu peito, o livro; apago o abajur e penso: encare isso, bêbado, na praça da Sé, seu babaca!

*Em Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos, onde também está "Inútil Paisagem", quando era conduzido, humilhado, pela baía de Guanabara, olhando, pelos buraquinhos da viatura, lascas de beleza. Jobim leu?

* Em Lembranças de Velhos de Ecléa Bosi.
SOMBRA

Esta mão que me escreve
Não acompanha;
Leva, grosso modo, os acenos.
Faz, às vezes, cozinha
Para avisar com o de si
Que não estou onde
As palavras me indiciam.
Ninguém, cada um e todos
Viajam, a esmo, sós e sob
A sentença;
Sem nunca serem encontrados.
Em minha companhia ou
Invisíveis;
Vagam pela mão
Que ainda insiste.


NO FUNDO

Há uma tentação na
Janela em frente:
A luz então fraca,
A morte súbita.
Um dizer que ela me vê.
Se forem muitas as mortes,
Qual delas é assim?
Uma batata entre muitas
Amassada. O não
Dito dela, feito de que nada sei.
Habita em mim sem ser
Frente ou fundo.
Nada sei entretanto,
Divido o leito.
Um broto de chá
No galho consumido
Por pragas brancas.
Brilhando, como nós,
Desatados,
No sol queimado.