sexta-feira, 30 de setembro de 2011

SOB A PORTA

a meu filho em seus 18 anos

Deixo-lhe isso.
Não quero o fácil
De pedro-pedra.
Quero o mistério das águas
Que o arredondam.
Quero as águas,
Curvas que me escaparam.
E as perdi - pedro-perda.

O que tive passou
Por passar de existir assim.
Olho o inseto esperto
Que voa sob meu olhar;
Os anos contados
De sua plenitude passando.
Os afastamentos vindos e vindouros.

As nossas trocas de solidão.
Seu voo, meu assento diáfano,
Minha evaporação.

Quero o repouso dos risos esquecidos,
Das frutas que comi. Comemos.
E, contudo, não soube amá-las
De fato.
Adormeci. Esqueci.
Adoeci. Escrevi.

Quero a janela que se abre ao travesseiro.
Ainda assim, aproxime de mim
A sombra que me espera.
Seu silêncio,
O melodrama que se afaga
No mingau de todo hoje-à-noite.

As más falas,
As más e todas as boas lembranças.

setembro/outubro de 2011

segunda-feira, 26 de setembro de 2011






EPITÁFIO

Morrer não é um problema. Viver em sofrimento sim. Morrer é um alívio. A busca insistente da mitigação é um ato ordinário de nossa conduta, que vivo estamos e, assim, seguiremos até o fim indesejável; de qualquer forma, aliviador.

Sem nenhuma conotação religiosa, a vida (qualquer vida), por dada, é sagrada. Assim também é o alívio. Este não se procura, espera-se paciente e angustiadamente. Outra coisa não é a vida, apenas acomodação e espera. Não se preocupe, o naufrágio virá. Quando? Pergunte ao mar.

setembro de 2011