sábado, 25 de julho de 2015



ESVAECIMENTO

A água, sem peias,
Se espalha pelas praças
E me vem inundar
Sem me pedir.
Será o acaso que me venceu
Sem licença ou continência?
Adormeço sobre meus cansados
Braços;
Meus olhos sonham
Uma memória que eu
Mesmo desarmo
Sem anuência que mesmo peça,
Para apoiar-me,
Sobre pé e pernas,
Numa vida que nem abriu cortinas.
E ofereceu-me
Estradas pedregosas.




SANDÁLIA

Ter sido
É coisa de tiras
De couro.
É ter sido
Linda sob seus pés.
Pisei e desfilei.
O futuro começa
Em bois e acaba em sapateiros.
E vai que um dia
Você, como eu, escolhe;
Eu, a sacola,
Você, a cama.
Quem, de nós, há de
Dizer:
Qual das quais lindas
Há de ir primeiro?


DESACONCHEGO

Se rico fosse,
Que escolha teria?
Não seria, nem teria.
E se pobre quisesse ser
Seria transparente ou invisível.
Bem sabem os calangos
Que, diante do sol,
Não se escondem,
Mas, de mim, sim.
Olham para si como quem sabe
Que o sol os abraçará de volta.
Eu pego um avião e
Nem sei se voltarei.

segunda-feira, 20 de julho de 2015



O LADO DE LÁ
Como não gosto de nada,
Gosto
Das figuras que se desenham
Nas manchas das paredes,
Dos pisos disformes,
No rosto que se esconde
Atrás do rosto
Que se apresenta;
No espelho dos vidros
Das janelas fechadas;
Nas manhãs ocultas
Das noites abertas.
Por isso e muito mais
Não gosto de nada
Além da vida
Que vaza nas veias
E nas seivas que correm
No interior dessas árvores
Que me fazem mais
Nas sombras vadias.

FASTIO

De novo:
Nessa manhã de outono,
A água se espalhou
Sem peias, pelas praças
E me veio inundar
Sem me pedir.
Será o acaso me vencendo
Sem licença ou continência?
Nessa mesa, adormeço sobre meus cansados
Braços;
Meus olhos sonharam
Memórias que nem mesmo notei,
Sem anuência que nem mesmo pedisse,
Para apoiar-me
Sobre pés e pernas trôpegas,
Numa vida que nem abriu
Cortinas;
Ofereceu-me estradas
A horizontes que ...
Alguns perdi
E outros esqueço.