sábado, 25 de abril de 2009


O ERRO DO CAVALO

Não quero me comunicar. Por quê? Ora, já me acomodei no silêncio e no devaneio. As pessoas não podem viver só? Quem disse? Entre estão e são, sou mais são. As pessoas nascem só. E são só. O que me acrescenta? Palavras... Narrativas... Ordenações... As suas não me interessam. As ordens são minhas no empurrar as pernas alternadamente. Caminhar. Locomover-me por ato de vontade, minha, única. Montaria pra quê?! À esquerda ou à direita, viro-me; pra frente ou pra trás, desloco-me. Sou o que faço. Sou quem faço. Intransigência? Não! Não espero que me acompanhe. Venha se quiser. Dizer que gostou é seu. Não subo em montaria, nem desço. O que há de andar, ande por sua e própria vontade. Olhar? Olho se quiser, não e fecho os olhos. Ouvir é mais difícil. Som entra, sem perguntar. Interrompê-lo implica perder braços e mãos; e, ainda assim, ouço. No sentido que quiser, a barbárie começa pelo ouvido, no grito. Burros gritam ou usam fones de ouvidos. Berros privados. Contra-silêncio. Por isso é duplo, para ser casado, dependente. Sou mais a sua boca calada. Dorme lá, tem cama e coberta. Sonhe seus sonhos, e não venha me contar no raso da manhã. Cale-se. Enforque-se no próprio espelho. Pense que você não precisaria ter acordado para que eu existisse. Faça silêncio sobre sua sombra opaca. Amanheça só e unicamente nos braços do sol. Só e unicamente. Sou nuvens. Tenho como companhia o vento; você, o vazio de seus ruídos. Quando adormeço, adormeço em franco escuro. Minha noite é sempre a última. Não cabe mais alguém.