sexta-feira, 28 de abril de 2017


A VIAGEM

Nada a dizer da roseira
Que brota no lago congelado.
Também a dizer nada
Sobre a carnificina universal.
Não me espanta que criem
Deus ou deuses, espíritos de quaisquer ordens
Diante do abismo ensolarado,
Chamado por alguém
"O Terror Sagrado".
Prefiro o silêncio ou a pena
Quebrada que mal escreve
Frente ao branco do papel,
A janela que se abre para mim,
Como espelho rachado na lixeira.
Prefiro amar o mistério, o desconhecido
Para seguir sempre adiante
E não congelar-me nos gessos religiosos
Ou doutrinários dos demiurgos de botequim.
Prefiro vagar, sem velas, no veleiro oceânico
E inútil das horas que passam;
Onde não me encontram
Nem me fazem perguntas;
À espera de que Ela,
De mim, faça pó e cinzas
Ou me ofereça aos vermes
Vorazes.

quinta-feira, 27 de abril de 2017


PRETÉRITOS PERFEITO E IMPERFEITO

Com hora marcada,
tomou providências:
Cortou os dedos dos pés
E das mãos.
Secou a boca e
Amarrou-se para o encontro.
Então, chegou.
Mas não havia ninguém.
O amor é isso mesmo.
Esperava o quê?
Nem deu corda
No relógio de si.
Seu coração doente
Mofava na fila de transplantes.
Esqueceu?
Havia o mim dos outros.

quarta-feira, 26 de abril de 2017


CITAÇÃO Z

De Nikos Kazantzakis, em Zorba, o Grego (tradução de Edgar Flexa Ribeiro e Guilhermina Sette)

"Essa paisagem cretense parecia assemelhar-se à boa prosa: bem trabalhada, sóbria, sem riquezas supérfluas, possante e contida. Expressava o essencial com os meios mais simples. Não brincava, e recusava-se a utilizar qualquer artifício. Dizia o que tinha a dizer com uma austeridade viril. Mas, entre as linhas severas, distinguiam-se uma sensibilidade e ternura inesperadas; nas partes mais defendidas, os limoeiros e laranjeiras recendiam, e mais longe, do mar infinito, emanava uma inesgotável poesia".


Boa Literatura que é, ao falar da paisagem cretense, parece estar caracterizando uma personagem e o próprio texto: Zorba e o livro. Coisa belíssima.