quarta-feira, 3 de dezembro de 2014


ONANISMO


Coisas de quando dizer

No silêncio de palavras

Que arrumam lençóis,

Mas não despertam.

Coisas de quando pensar

É quase escrever

No silêncio dos sapatos vazios,

Mas não fazem poemas.

Coisas de ver no escuro

E deixar às mariposas

Que aqueçam, em silêncio, a alma enferma.

Acender a luz e ver,

Ouvir apenas a torneira

Que insiste em pingar

Um rosto esquecido.

Nunca, nunca dormir

Sobre escombros de minhas mazelas.

Ter, como melhor amiga,

Um sabonete banal,

O único que me afaga

Num vazio da tarde do domingo.

Coisas de quando calar e

Nunca, nunca sofrer.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014


NÃO ME ESQUEÇO

 

"Se recuse a contentar-se com meras horas vagas para dar vazão à potencialidade da sua personalidade: se torne surdo e cego às blandícias de coisas como carreira, prosperidade, mania de consumo, política de poder, progresso tecnológico e, por fim, não tenha mais do que um sorriso triste para a baixa comédia desses valores, passando-lhes ao largo".

 

Theodore Roszak - 1960/70

 

"Os seres humanos precisam aprender a ser hóspedes uns dos outros neste pequeno planeta, da mesma forma como precisam aprender que somos todos hóspedes do mundo natural. Esta é uma verdade humildemente comezinha, que tem a ver com o ar que respiramos, com nossa pele, com esta Terra inimaginavelmente mais antiga que nós e onde lançamos nossas sombras passageiras. Mas esta é também uma verdade terrivelmente abstrata, uma verdade moral e psicológica incomensurável. O homem terá que aprender ou estará se encaminhando para a destruição suicida e a violência". [Já está]

 

George Steiner - 1985

 

"Turn on, tune in, drop out". [Ligue-se, sintonize-se, caia fora]

 

Timothy Leary - 1960/70

 

"Viver é ser condenado a estar vivo".

 

Na base Franz Kafka - 1914/15

 

Destruindo-me para compreender-me, insisto: não sou de, não estou em, passo.

 

A. R. Falcão  - 2014


O ERRANTE


No caminho das formigas,

Nas frinchas dos tecidos

Que me cobrem os ossos,

Nas sobreposições das nuvens

Que me distraem,

Nas alamedas baixas e interiores

Dos matagais,

Nos labirintos intestinos

Dos cupinzeiros

E nas ventanias que desgrenham

As trepadeiras,

Por aí há de estar

O adeus que recebi (e perdi),

Numa manhã remota e qualquer,

Da mão direita.

Apenas a esquerda aqui está,

Estendida sobre uma das pernas cansadas

Que me carregam entre queixumes,

No obumbrado das ruas aterrorizantes.