sexta-feira, 4 de junho de 2010
DEVER CUMPRIDO
HISTÓRIA Nº 1
No mês passado, estando em dívida com uma operadora de telefonia (coisa nada difícil), propus uma negociação que logo foi aceita. O montante foi parcelado e a data limite para a quitação da primeira parcela será 9 de junho. Como hoje é 2 de junho, o prazo para pagamento não se esvaiu.
Às 4 e pouco da madrugada, tentei conexão com meu provedor e operadora, descobri que minha linha estava bloqueada. Não acreditei e tentei contato com a empresa. Nada. Mais tarde, no fim da manhã, consegui. Explicaram-me que funciona assim mesmo. Apalermei-me.
Tive de resignar-me com o seguinte: só mediante o pagamento da primeira parcela, teria minha linha restabelecida. Se o boleto não chegar pelo correio em tempo hábil, é possível pegá-lo na Internet. Note: eles também cortaram meu acesso à Web. A operadora tem um site para isso. É “muderna”. Repito: prazo para isso, não-expirado. Concluo: sou punido por descumprimento de contrato antes de fazê-lo, ou seja, sou punido, porque “acham” que não vou cumpri-lo. Assim, eles se previnem. Atacam logo – algo parecido com o que Israel fez aos militantes humanitários em águas internacionais. Não pergunte, atire primeiro.
E fico delirando à luz do dia, sem febre, sóbrio, bem alimentado, descansado e bem dormido:
Caymi caminhava distraidamente por uma calçada, pensando na morte da bezerra (seu lazer predileto); mal sabia que já era observado por um policial bastante cioso de seus deveres, como logo saberia. Interpelado, ouviu:
_ Identifique-se!
_ Que foi, seu guarda?
_ Seu nome.
_ Caymi dos Santos Oliveira. Caymi é por conta de meu pai, que amava o baiano.
_ Tem família? Sua carteira de identidade.
_ Tenho.
_ É filho único?
_ Não. Tenho um irmão.
_ Nome.
_Abel. É por conta da religiosidade de minha mãe.
_ Ah, entendi. Caim e Abel. Está preso!
_ (!!!)Mas o que eu fiz?Por quê?!
_ Não banque o esperto. Daqui a dois meses, você mata seu irmão.
_ Enlouqueci?!
_ Está escrito no Livro. A Bíblia anda sempre comigo. Não mente.
E lá foram os dois para a delegacia. Um algemado ao outro.
HISTÓRIA Nº 2
Dezembro, num ano longínquo, uma cena inusitada:
Em meio à multidão, o prefeito em pessoa jogava latas, garrafas e papéis pela calçada; entulho que se somava ao que ali já estava. Em seguida, recolhia tudo e depositava num grande saco. Depois de ter “detonado” as lixeiras que encontrou pelo caminho, claro!
Julgando-o maluco, um policial, intrigado, aproximou-se e lançou a pergunta inevitável:
_ Que maluquice é essa?! Quem é o senhor?
_ Ué?! Não reconhece? Sou o prefeito ora.
_ Vai contar essa “cascata” na delegacia. Você quebra as lixeiras, suja o passeio e, depois, limpa tudo. Quer me explicar o motivo dessa estupidez?
_É o seguinte, policial: se eu disser por aí que a população é mal-educada, vão me acusar de insensível, autoritário, omisso e todo o resto. E, aí, não ganho eleição nunca mais. Assim, o vândalo e porco sou eu mesmo. Os munícipes não poderão ser acusados das duas coisas. E mais: ninguém poderá dizer que não faço a minha parte. Olhe pra trás, está tudo limpinho. Uma beleza! Olhe ali, um funcionário me acompanha. Ele troca as lixeiras.
_ Os garis existem pra quê?!
_ O exemplo vem de cima! É pedagógico. Captou a mensagem?
Confuso, o guarda ficou mudo e parado uns instantes. O suficiente para que o prefeito se preparasse para dar seguimento a seus propósitos-cidadão. Mas ele não estava alerta para brincar de hospício. Ainda matutando, levou a mão ao bolso, puxou o cigarro, o isqueiro, mas, antes que fizesse fogo e desse a primeira baforada, foi logo ouvindo:
_ O senhor está preso!
_ Quê?!
_ É proibido fumar embaixo de marquises nas vias públicas! Só a céu aberto. Não conhece as leis? Tudo, menos fumo passivo! Se o senhor quer se matar, é livre pra isso; mas não destrua a vida dos munícipes sadios!
Foi muito para as autoridades, que foram logo saindo na porrada. E lá foram os dois para a delegacia, seguidos por outro guarda atento. Um algemado ao outro. Desde então, o poder público, a população e as ruas continuam como a gente sabe.
HISTÓRIA Nº 3
O professor que tem condições físicas e psicológicas para dar aulas, e o fez e faz, se aposenta com 30 anos de serviços prestados e comprovados. A professora, 25.
O professor que não as tem, em razão de doença crônica (adquirida no curso de sua carreira), se não está inválido, , portanto trabalha na escola, fora da sala de aula, exercendo atividades de outra natureza, vai se aposentar depois de 35 anos de efetivo exercício e contribuição. A professora, depois de 30. Mesmo doentes, são obrigados a trabalhar mais cinco anos.
A coisa funciona assim: a deficiência física ou mental, verificada por peritos do serviço público, após a conferência do laudo médico particular apresentado pelo(a) enfermo(a), afastam o (a) profissional da regência de aulas e determinam a natureza de suas novas funções na escola.
De forma que são punidos duplamente: pelo sofrimento que a doença lhes provoca (“destino, pô!” ou “se se cuidasse, não tava nessa, meu!”) e pelo poder público, que os abriga a mais cinco anos de contribuição e trabalho.
Ninguém toca, publicamente, nesse assunto. Se o(a) profissional o fizer, será, mais uma vez, punido(a). Funcionário(a) público(a) paulista é proibido(a) de dar declarações ou entrevistas a órgãos de comunicação, a não ser que esteja devidamente autorizado(a) pela secretaria para a qual presta serviços. É chamada de “Lei da Mordaça”. A Assembléia Legislativa tentou acabar com essa barbaridade, o Executivo tratou de vetar. Funcionário público não fala e pronto. E não se fala mais nisso.
E me vem à lembrança:
“(...) Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste.” Burro ingrato! Vai trabalhar, vagabundo!
HISTÓRIA Nº 1
No mês passado, estando em dívida com uma operadora de telefonia (coisa nada difícil), propus uma negociação que logo foi aceita. O montante foi parcelado e a data limite para a quitação da primeira parcela será 9 de junho. Como hoje é 2 de junho, o prazo para pagamento não se esvaiu.
Às 4 e pouco da madrugada, tentei conexão com meu provedor e operadora, descobri que minha linha estava bloqueada. Não acreditei e tentei contato com a empresa. Nada. Mais tarde, no fim da manhã, consegui. Explicaram-me que funciona assim mesmo. Apalermei-me.
Tive de resignar-me com o seguinte: só mediante o pagamento da primeira parcela, teria minha linha restabelecida. Se o boleto não chegar pelo correio em tempo hábil, é possível pegá-lo na Internet. Note: eles também cortaram meu acesso à Web. A operadora tem um site para isso. É “muderna”. Repito: prazo para isso, não-expirado. Concluo: sou punido por descumprimento de contrato antes de fazê-lo, ou seja, sou punido, porque “acham” que não vou cumpri-lo. Assim, eles se previnem. Atacam logo – algo parecido com o que Israel fez aos militantes humanitários em águas internacionais. Não pergunte, atire primeiro.
E fico delirando à luz do dia, sem febre, sóbrio, bem alimentado, descansado e bem dormido:
Caymi caminhava distraidamente por uma calçada, pensando na morte da bezerra (seu lazer predileto); mal sabia que já era observado por um policial bastante cioso de seus deveres, como logo saberia. Interpelado, ouviu:
_ Identifique-se!
_ Que foi, seu guarda?
_ Seu nome.
_ Caymi dos Santos Oliveira. Caymi é por conta de meu pai, que amava o baiano.
_ Tem família? Sua carteira de identidade.
_ Tenho.
_ É filho único?
_ Não. Tenho um irmão.
_ Nome.
_Abel. É por conta da religiosidade de minha mãe.
_ Ah, entendi. Caim e Abel. Está preso!
_ (!!!)Mas o que eu fiz?Por quê?!
_ Não banque o esperto. Daqui a dois meses, você mata seu irmão.
_ Enlouqueci?!
_ Está escrito no Livro. A Bíblia anda sempre comigo. Não mente.
E lá foram os dois para a delegacia. Um algemado ao outro.
HISTÓRIA Nº 2
Dezembro, num ano longínquo, uma cena inusitada:
Em meio à multidão, o prefeito em pessoa jogava latas, garrafas e papéis pela calçada; entulho que se somava ao que ali já estava. Em seguida, recolhia tudo e depositava num grande saco. Depois de ter “detonado” as lixeiras que encontrou pelo caminho, claro!
Julgando-o maluco, um policial, intrigado, aproximou-se e lançou a pergunta inevitável:
_ Que maluquice é essa?! Quem é o senhor?
_ Ué?! Não reconhece? Sou o prefeito ora.
_ Vai contar essa “cascata” na delegacia. Você quebra as lixeiras, suja o passeio e, depois, limpa tudo. Quer me explicar o motivo dessa estupidez?
_É o seguinte, policial: se eu disser por aí que a população é mal-educada, vão me acusar de insensível, autoritário, omisso e todo o resto. E, aí, não ganho eleição nunca mais. Assim, o vândalo e porco sou eu mesmo. Os munícipes não poderão ser acusados das duas coisas. E mais: ninguém poderá dizer que não faço a minha parte. Olhe pra trás, está tudo limpinho. Uma beleza! Olhe ali, um funcionário me acompanha. Ele troca as lixeiras.
_ Os garis existem pra quê?!
_ O exemplo vem de cima! É pedagógico. Captou a mensagem?
Confuso, o guarda ficou mudo e parado uns instantes. O suficiente para que o prefeito se preparasse para dar seguimento a seus propósitos-cidadão. Mas ele não estava alerta para brincar de hospício. Ainda matutando, levou a mão ao bolso, puxou o cigarro, o isqueiro, mas, antes que fizesse fogo e desse a primeira baforada, foi logo ouvindo:
_ O senhor está preso!
_ Quê?!
_ É proibido fumar embaixo de marquises nas vias públicas! Só a céu aberto. Não conhece as leis? Tudo, menos fumo passivo! Se o senhor quer se matar, é livre pra isso; mas não destrua a vida dos munícipes sadios!
Foi muito para as autoridades, que foram logo saindo na porrada. E lá foram os dois para a delegacia, seguidos por outro guarda atento. Um algemado ao outro. Desde então, o poder público, a população e as ruas continuam como a gente sabe.
HISTÓRIA Nº 3
O professor que tem condições físicas e psicológicas para dar aulas, e o fez e faz, se aposenta com 30 anos de serviços prestados e comprovados. A professora, 25.
O professor que não as tem, em razão de doença crônica (adquirida no curso de sua carreira), se não está inválido, , portanto trabalha na escola, fora da sala de aula, exercendo atividades de outra natureza, vai se aposentar depois de 35 anos de efetivo exercício e contribuição. A professora, depois de 30. Mesmo doentes, são obrigados a trabalhar mais cinco anos.
A coisa funciona assim: a deficiência física ou mental, verificada por peritos do serviço público, após a conferência do laudo médico particular apresentado pelo(a) enfermo(a), afastam o (a) profissional da regência de aulas e determinam a natureza de suas novas funções na escola.
De forma que são punidos duplamente: pelo sofrimento que a doença lhes provoca (“destino, pô!” ou “se se cuidasse, não tava nessa, meu!”) e pelo poder público, que os abriga a mais cinco anos de contribuição e trabalho.
Ninguém toca, publicamente, nesse assunto. Se o(a) profissional o fizer, será, mais uma vez, punido(a). Funcionário(a) público(a) paulista é proibido(a) de dar declarações ou entrevistas a órgãos de comunicação, a não ser que esteja devidamente autorizado(a) pela secretaria para a qual presta serviços. É chamada de “Lei da Mordaça”. A Assembléia Legislativa tentou acabar com essa barbaridade, o Executivo tratou de vetar. Funcionário público não fala e pronto. E não se fala mais nisso.
E me vem à lembrança:
“(...) Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste.” Burro ingrato! Vai trabalhar, vagabundo!
terça-feira, 1 de junho de 2010
ASSIM É QUE...
[Tomando de empréstimo e parodiando cenas narradas por um cronista de rádio de cujo nome me esqueço agora.]
1. Num boteco de nossos tristes tempos:
_ Oh, Giba, Nando e Zé, vocês poderiam parar de olhar pra TV, desligar o celular e tirar o MP3 das orelhas? um instante só? É que gostaria, se possível, de apresentar estes amigos que beberam cerveja com a gente, a noite toda.
2. De um chefe do crime organizado:
_ Não me chamem de criminoso; não é exato, pelo menos com a conotação negativa que vocês querem dar à palavra. Explico: criminosos somos todos; o que eu não sei é o que leva tantas pessoas a praticar ilícitos de todo tipo. Há tantas maneiras de cometê-los, seguindo, rigorosamente, as leis vigentes. Os Planos de Saúde, o Crédito ao Consumo, o Regime Tributário, os Bancos que administram os cartões de crédito e cheques especiais estão aí pra não me desmentir.
[Tomando de empréstimo e parodiando cenas narradas por um cronista de rádio de cujo nome me esqueço agora.]
1. Num boteco de nossos tristes tempos:
_ Oh, Giba, Nando e Zé, vocês poderiam parar de olhar pra TV, desligar o celular e tirar o MP3 das orelhas? um instante só? É que gostaria, se possível, de apresentar estes amigos que beberam cerveja com a gente, a noite toda.
2. De um chefe do crime organizado:
_ Não me chamem de criminoso; não é exato, pelo menos com a conotação negativa que vocês querem dar à palavra. Explico: criminosos somos todos; o que eu não sei é o que leva tantas pessoas a praticar ilícitos de todo tipo. Há tantas maneiras de cometê-los, seguindo, rigorosamente, as leis vigentes. Os Planos de Saúde, o Crédito ao Consumo, o Regime Tributário, os Bancos que administram os cartões de crédito e cheques especiais estão aí pra não me desmentir.
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