TRANSFIGURAÇÃO
Caminhando para o trabalho, assisti a uma cena banalíssima: um garoto, com um objeto qualquer nas mãos, simulava-se como atirador e mirava um alvo imaginário. A mãe seguia na frente e ele atrás. Fiquei pensando e prossegui assim meus passos pelo início da manhã (6h).
É curioso esse comportamento humano de todas as idades: transcender-se ou "encarnar-se" em outro. Das brincadeiras infantis quando o menino se vê (e se faz) como homem- aranha e a menina como Barbie ou uma princesa qualquer às formas mais sofisticadas e supremas das artes teatral e cinematográfica. O envolvimento do ouvinte, do leitor ou espectador também faz parte desse quadro. Que necessidade será essa? Serve a quê?
Alguns animais (penso em cachorro) simulam atos agressivos por pura brincadeira. Fingem morder. Chego a pensar que toda brincadeira animal é também simulação, ser um outro; estar numa situação hipotética, virtual.
No homem, vejo dois modos básicos: criar um outro para, nele, projetar-se, "encarnar" ou criar um outro para interação ou interlocução íntimas (mental ou espiritual, como se queira) - aqui incluo todas as religiões. No primeiro modo, penso em personagem nas mais diferentes formas de arte e, por certo, nas brincadeiras infantis.
Tomando a palavra outro com amplo espectro de sentidos, a ação de criar paisagens imaginárias (ou mesmo representá-las por meios gráficos ou pictóricos) poderia muito bem ser incluída num dos dois modos mencionados. Serve à mesma misteriosa necessidade. No limite, entre outras coisas, o homem não passa de um mamífero criador de símiles. E a música? Bem, esta nasceu quando aprendemos a imitar os passarinhos.
Então elucubro: não seria a consciência tal como a conhecemos um fenômeno recente no processo evolutivo da espécie? De forma que, ainda não plenamente adaptados a essa condição, nos sentimos prisioneiros de um casulo egótico (Epa!). Daí a necessidade de expandi-la (alucinógenos!), de transcendência (religião), de transfiguração(artes). Vai saber!
Gostoso mesmo é ficar assuntando.
quarta-feira, 17 de março de 2010
PALAVRA, PALAVRINHA, PALAVRÃO
Repare bem.
Borboleta: esta até bate as asas coloridas.
Formiga: aqui ela se contrai até o pequenino. O [-ga] é sua bundinha.
Bunda: esta se arredonda sem constrangimento.
Arroto: retumbante, segue feliz, sem olhar de lado.
Azulíneo: de tão azul, fere a vista.
Escarranchar: esta vive esparramada no sofá.
Malícia: escorregadia como ela só.
Iracundo: dorme abraçada com jacaré.
Palavrório: fala pelos cotovelos.
Boquirroto: não conte nada pra ela.
Cu: compacta, só o vento passa de fininho.
Deslinde: esta acha o grão de sal na bagunça da farofa.
Tapioca: esta vem branquinha com o rabo balançante.
Farofa: já colou no céu da boca.
Há: etérea e vaga como a existência.
É: etérea e vaga como a essência.
Tantas como são, segue-se assim por diante. Agradecidos ficamos.
Repare bem.
Borboleta: esta até bate as asas coloridas.
Formiga: aqui ela se contrai até o pequenino. O [-ga] é sua bundinha.
Bunda: esta se arredonda sem constrangimento.
Arroto: retumbante, segue feliz, sem olhar de lado.
Azulíneo: de tão azul, fere a vista.
Escarranchar: esta vive esparramada no sofá.
Malícia: escorregadia como ela só.
Iracundo: dorme abraçada com jacaré.
Palavrório: fala pelos cotovelos.
Boquirroto: não conte nada pra ela.
Cu: compacta, só o vento passa de fininho.
Deslinde: esta acha o grão de sal na bagunça da farofa.
Tapioca: esta vem branquinha com o rabo balançante.
Farofa: já colou no céu da boca.
Há: etérea e vaga como a existência.
É: etérea e vaga como a essência.
Tantas como são, segue-se assim por diante. Agradecidos ficamos.
terça-feira, 16 de março de 2010
NOTAS AO ACASO
1. "Nunca se esqueça de desconfiar" (Stendhal) e de duvidar. A certeza é o pior veneno para o pensamento. Deságua em dogma e aí a burrice se instala. A incerteza absoluta não é água potável - a primeira como a segunda são apenas provisórias. Ao partirem, não deixam as camas arrumadas. Burrice ou insegurança instaladas, não adianta chamar o Corpo de Bombeiros, Médicos sem Fronteiras ou Cruz Vermelha. Duvide disto também.
2. Se bem conservado, um negativo pode durar até 200 anos. E um arquivo de imagem digital quanto pode durar? Uma câmera analógica de 40 anos fotografa muito bem até hoje. O que será de sua câmara digital (e respectivos cartões de memória) daqui a 10 anos? Pense que os computadores pessoais (com os dias contados - cloud-web)recentes já não trazem dispositivos para leitura dos antigos disquetes. O que será dos livros digitalizados se aqueles em papel não forem preservados? E aí, seu moço?!
Por isso, como bom bovino, mantenha-se em frenética e inútil correria na busca do novo, ao som de Lady Gaga, assistindo ao Titanic em 3D e fazendo muita ginástica na academia.
1. "Nunca se esqueça de desconfiar" (Stendhal) e de duvidar. A certeza é o pior veneno para o pensamento. Deságua em dogma e aí a burrice se instala. A incerteza absoluta não é água potável - a primeira como a segunda são apenas provisórias. Ao partirem, não deixam as camas arrumadas. Burrice ou insegurança instaladas, não adianta chamar o Corpo de Bombeiros, Médicos sem Fronteiras ou Cruz Vermelha. Duvide disto também.
2. Se bem conservado, um negativo pode durar até 200 anos. E um arquivo de imagem digital quanto pode durar? Uma câmera analógica de 40 anos fotografa muito bem até hoje. O que será de sua câmara digital (e respectivos cartões de memória) daqui a 10 anos? Pense que os computadores pessoais (com os dias contados - cloud-web)recentes já não trazem dispositivos para leitura dos antigos disquetes. O que será dos livros digitalizados se aqueles em papel não forem preservados? E aí, seu moço?!
Por isso, como bom bovino, mantenha-se em frenética e inútil correria na busca do novo, ao som de Lady Gaga, assistindo ao Titanic em 3D e fazendo muita ginástica na academia.
Assinar:
Postagens (Atom)