NOTAS BAIANAS
A VER
Na Bahia, o verão avança por palavrórios retumbantes e gorjeios estentóricos, nas noites sonorosas. A sarrabulhada se esfalfa nas baladas escancaradas. Prima-dona$ prometem coxa$ gorda$ e canoro$ grisalho$ ofertam mesmices aí pelos 800 mil reais. Bulhas, uma borracheira! Quem quiser que vá, pois eu não vou.
A GRAÇA MAIS LINDA
Um negocinho encantador que saltita seu preto-e-branco, se esquivando de nossas passadas. Fosse amarelado, seria um bem-te-vi anão - seu parente mais próximo. Preguiçoso de voar, seu assunto é perambular no chão. Tivesse laranja o papo, seria um sabiá prematuro. Não anda em par, é um tira-prosa. Como nossa sombra no calor senegalês a pleitear desmembramento; um píon no país das passaradas. Responde pelo nome lavadeira, que gosta do fresquinho das águas que se lhe oferece. Um brinde inesperado no janeiro que já vai se despedindo. Um brilhante de humilde esperança no breu dos dias que, sobre nós, desabam.
AUTOCIÊNCIA E PANAUSÊNCIA
Ruminando sonhos, memórias e devaneios, fantasia e se faz crente em delírios, assertivo. Confrontado, desmente e, para salvar-se, mente. E segue em frente a evolar-se nas águas paradas do tempo. Como se contasse as gotas da torneira senil. A alimentação deletéria repetente e os refluxos recorrentes inflam a ventripotência. A seu juízo, sobram-lhe a injustiça, o furto, a ingratidão e o maltrato. Seu esporte: maldizer o outro. Ele é um santo deus circunscrito a sua autocomplacência. Um nefelibata antes do fim, um self-blefe. Seus olhos nos veem desde o fundo de um vago sorriso. Depois, do nada, adormece. É o mais triste espelho em que nos miramos. Nada nos é permitido fazer. Não quer, não deixa. É soberano no que lhe resta de vida.
A. R. FALCÃO - JANEIRO DE 15