sexta-feira, 27 de agosto de 2010
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
ALMA
Há meses atrás, escrevi aqui sobre um clipes que permaneceu por uns bons dez dias na mesma posição, na calçada onde martelava meus sapatos todos os dias, ao caminhar para o trabalho. Fascinava-me sua imobilidade no mundo moderno, movente e perniciosamente veloz.
Em julho, na passagem rotineira por Salvador, encontrei-me com uma borrachinha, permanecida por uma semana no mesmo lugar, na mesma calçada, na mesma posição. Ali martelava chinelos de dedo. Agora, agosto, encontro outra dessas figuras bizarras, um cabide minúsculo, desses que guardam pares de meias em gôndolas do comércio. Na calçada, onde, de novo, martelo sapatos. Curiosamente, substituindo o clipes de outras jornadas, no mesmo lugar. Está lá há uma semana.
Essas coisas me fazem pensar que os objetos têm alma. Penso nisso faz tempo; mormente quando observo todos as coisas que me cercam nesse minúsculo apartamento que habito sozinho, de forma intermitente, há anos. Onde entra a alma, melhor, a teoria da alma?
Penso que a alma não se estabelece no objeto, mas no observador, o observado é que nos a rouba por instantes ou por muito tempo, como os ícones que permanecem por anos sobre nossos móveis. O mesmo serve para eletrodomésticos: quando um quebra, outros se arrebentam em solidariedade. As moedas quando caem de nossas mãos buscam os
Em julho, na passagem rotineira por Salvador, encontrei-me com uma borrachinha, permanecida por uma semana no mesmo lugar, na mesma calçada, na mesma posição. Ali martelava chinelos de dedo. Agora, agosto, encontro outra dessas figuras bizarras, um cabide minúsculo, desses que guardam pares de meias em gôndolas do comércio. Na calçada, onde, de novo, martelo sapatos. Curiosamente, substituindo o clipes de outras jornadas, no mesmo lugar. Está lá há uma semana.
Essas coisas me fazem pensar que os objetos têm alma. Penso nisso faz tempo; mormente quando observo todos as coisas que me cercam nesse minúsculo apartamento que habito sozinho, de forma intermitente, há anos. Onde entra a alma, melhor, a teoria da alma?
Penso que a alma não se estabelece no objeto, mas no observador, o observado é que nos a rouba por instantes ou por muito tempo, como os ícones que permanecem por anos sobre nossos móveis. O mesmo serve para eletrodomésticos: quando um quebra, outros se arrebentam em solidariedade. As moedas quando caem de nossas mãos buscam os
lugares mais recônditos; sob o sofá, por exemplo.
Se a alma habita o observador, ao sermos observados, não mais temos alma, mas a tem quem nos observa. A alma é migrante; nunca está, ninguém a carrega. De certa forma, ela não existe por si. E prossigo cético, vagando pelas ruas. Observando e sendo observado. Quem muito observa, empresta a alma; quem muito gosta de ser observado é um pobre ladrão de almas fugidias. Reduz-se à condição de clipes, borrachinha e cabide de meias. Como o trapezista que se exibe. Sem rede de proteção.
Criar teorias assim tem seu encanto: nasce do pensar vagabundo. Algo formidável que as pessoas parecem estar perdendo enquanto operam todo tipo de maquininhas a todo instante. Quem já caminhou num pasto pôde notar que os bois são grandes observadores – perdedores de alma, como os bem-te-vis que os acompanham. Ali, todos - inclusive nós- observam todos. E aí? onde ficam as almas? Não ficam, permanecem na suspensão da inexistência. E, sem sombra de dúvida, os embutidos que nos enchem a barriga são o cemitério delas. Por favor, não confundam morte com inexistência. E, desde já, adianto: não sou vegetariano e muito menos místico. Agora, vocês já estão autorizados a ligarem seus smart-phones. Pobres são as almas e mais ainda aqueles que já não sabem brincar com elas.
Se a alma habita o observador, ao sermos observados, não mais temos alma, mas a tem quem nos observa. A alma é migrante; nunca está, ninguém a carrega. De certa forma, ela não existe por si. E prossigo cético, vagando pelas ruas. Observando e sendo observado. Quem muito observa, empresta a alma; quem muito gosta de ser observado é um pobre ladrão de almas fugidias. Reduz-se à condição de clipes, borrachinha e cabide de meias. Como o trapezista que se exibe. Sem rede de proteção.
Criar teorias assim tem seu encanto: nasce do pensar vagabundo. Algo formidável que as pessoas parecem estar perdendo enquanto operam todo tipo de maquininhas a todo instante. Quem já caminhou num pasto pôde notar que os bois são grandes observadores – perdedores de alma, como os bem-te-vis que os acompanham. Ali, todos - inclusive nós- observam todos. E aí? onde ficam as almas? Não ficam, permanecem na suspensão da inexistência. E, sem sombra de dúvida, os embutidos que nos enchem a barriga são o cemitério delas. Por favor, não confundam morte com inexistência. E, desde já, adianto: não sou vegetariano e muito menos místico. Agora, vocês já estão autorizados a ligarem seus smart-phones. Pobres são as almas e mais ainda aqueles que já não sabem brincar com elas.
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