quinta-feira, 13 de agosto de 2009

POR QUE NÃO SEI – ainda conversando com a irmã

“É preciso duas pessoas para fazer alguém, e uma para morrer. É assim que o mundo vai acabar”. William Faulkner

Suspeito que o autoconhecimento não tenha, como primado, a atividade de busca da pacificação e conforto íntimos, como apregoam certas práticas, mas a perseguição de uma convivência resignada (não covarde) com a dor existencial, que se dá por ser condição primeira para o existir em estado de cultura, em relacionamento permanente com o outro, com aquilo que ultrapassa o indivíduo, que é externo a ele. O homem com ciência de um lobo atropelado, um bem-te-vi de asa quebrada.

Difícil é estabelecer a fronteira entre o que lhe é interno (próprio) e, externo (impróprio); seu traço distintivo. Até que ponto o indivíduo já não é, em si, uma construção adaptativa ao outro? E, assim, ele seria sempre instável, em permanente processo e nunca algo dado, acabado, mas objeto de conhecimento para o qual há um sujeito também bruxuleante, num evento interminável e inconclusivo – a ação de conhecer. Sujeito e objeto como desdobramentos recíprocos ou reflexivos (especulares?), nascentes um do outro. Do contrário, aquele evento seria, desde sempre, fadado ao fracasso.

A existência (vida) como um oceano movente à beira da procela – quando aquela é ainda possível – supõe o envolvimento da trindade sujeito – ação (conhecimento) – objeto em constante desconcerto e ebulição, na prisão do tempo que se esvai. E há outra paisagem na qual estamos e dela somos constituintes?

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

DA SÉRIE: "É..."

"É um dos atos mais naturais e simples, tanto quanto respirar ou caminhar ereto. Nós nos sentamos à mesa, pegamos um garfo e nos deliciamos com uma porção de comida saborosa, sem darmos atenção a todas as ramificações globais que se cruzam em nosso prato. Num jantar hoje, poderíamos comer carne da Argentina, acompanhada por vinho da África do Sul; o azeite vem da Sicília; a água mineral, da França; o arroz, da Tailândia. A sociedade moderna nos poupou do fardo de cultivar, colher e preparar o pão de cada dia [os urbícolas], em troca de apenas pagar por ele. Só quando os preços sobem é que nos damos conta disso. E as consequências de nossa falta de atenção são profundas ".

Por Joel K. Bourne, Jr. para National Geographic Magazine

Já alertavam os juristas americanos, Samuel Warren e Louis Brandeis, em 1890: "O que foi sussurrado nos quartos será proclamado nos telhados". E Scott McNealy, cofundador da Sun Microsystems, sentencia: "Sua privacidade já é zero. Pare de sofrer com isso".

"(...) Sob certo aspecto, essa revolução digital nos mergulhou em um estado de contínua atenção parcial. Estamos permanentemente ocupados, acompanhando tudo. Não nos focamos em nada. A atenção parcial contínua é diferente da multitarefa, na qual temos um propósito para cada uma das ações paralelas e tentamos melhorar nossa eficiência e produtividade. Quando prestamos atenção parcial continuamente, colocamos nosso cérebro num estágio mais elevado de 'stress'. Ficamos sem tempo para refletir, contemplar ou tomar decisões ponderadas. As pessoas passam a existir num ritmo de crise constante, em alerta permanente, sedentos de um novo contato ou um novo 'bit' de informação".

De Gary Small, diretor do Centro de Pesquisa em Memória e Envelhecimento da Universidade da Califórnia.

"Em um feriado prolongado em maio de 2008, por exemplo, 80 mil turistas invadiram a cidade [Veneza] como os gafanhotos das sete pragas do Egito. Em Mestre, na parte continental do município onde os visitantes deixam o carro e pegam o ônibus ou trem para o centro histórico, os estacionamentos lotaram. A multidão que conseguiu entrar em Veneza irrompeu pelas ruas como um cardume de enchovas, devorando pizza e gelato e deixando uma esteira de papéis e garrafas de plástico".

De Cathy Newman para National Geographic Magazine.

Para esta série, não farei comentários. Nem precisa.