Inteligência é o que permite o
conhecimento, por aproximação, da complexidade do mundo no qual estou inserido.
É preciso humildade intelectual. A complexidade é infinita. É um grande prazer
mergulhar nesse mar. Não é ganhar nos joguinhos eletrônicos, não é passar a
perna no vizinho, não é tagarelar na conectividade patológica. O tempo que
se perde com essas bobagens divertidas é aquele que se ganharia na observação
do mundo real e mensurável, na ampla e aberta reflexão. Nessas terras chamadas
Brasil, a manada se deixou engolfar pelo entretenimento elétrico (é onde pasta
suas horas de vigília) e acabou abandonando a cultura que conta. Desligue a
maquininha enquanto é tempo, antes do atropelamento, da trombada, da queda e da
ignorância pegajosa. Não me canso de pensar e dizer ainda que a burrice triunfe. Olhe em
torno.
quinta-feira, 28 de maio de 2015
quarta-feira, 27 de maio de 2015
AJUSTAMENTO
Você é uma ave sem felpas.
Descende
Dos avós sem paletós.
É sobrevivente,
Passeia pelo parque
E não é vista.
Come as uvas
Sem tocar a videira.
Bebe o vinho
Nas nuvens que cavalgam
Sua cegueira permanente.
O que mais quer?
O brinco da princesa?
A adaga do assassino?
Durma enquanto a noite
Aquece o travesseiro
E lhe nascem as penugens
Para a vida inútil
Para qual a lançaram.
Ponha os pingos nos is,
Os tremas nos us
E a dor no seu impossível lugar.
segunda-feira, 25 de maio de 2015
ENCALACRADOS
"O que vemos não é a natureza,
mas a natureza exposta
ao nosso método de
questionamento".
Werner Heisenberg
O que é a luz a não ser a escuridão
que nos povoa na ignorância e o claro que nos desmantela na contraluz? O
mistério que nos encaminha e nos põe em estradas vazias, entre a onda e a
partícula? O que faz e desfaz, o que é e não é, o não-inexistente?
Você não vê a luz, vê as coisas
iluminadas; ou não vê, pensa e se lembra dela. Você não vê a morte, vê os mortos;
ou não vê, pensa muito e se lembra dela. Cai embaraçado no velho novelo do verbo,
na vã filosofia.
É no castelo de palavras, umas sobre
as outras, num equilíbrio instável, que se concentram a reminiscência e o
esquecimento, numa troca de soma zero, tal como aquela verificada entre um vago
"mim" e esse vulto refletido no espelho. Quem há de morrer primeiro?
Quem será mumificado pela memória aleivosa? Quem dos descendentes apagará a
luz?
As palavras iniciais, à medida que se
apagam, serão outras muito mais adiante, muito embora as mesmas. Quem vê jaz
cego; quem lê jaz parvo. Somos os que não sabemos quem. E, então, é que não é, e
assim é que não sou. E então?!
Deixa pra lá e vá ver se a água já
ferveu.
A. R. Falcão - maio de 2015
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