sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015


 


Tenho na ferida

O trigo,

O tabaco na boca,

O céu na mão,

Uma voz que é minha,

Uma música,

O vinho e o mel.

Mas chove um pouco. É verão.

Estou sempre aqui.

Ali é ali.

E a folha em branco assenta.

Não termina, dorme

Preguiçosamente

A tarde inteira.

 

A. R. Falcão - fevereiro de 15

 
ENQUANTO ISSO
 

Na estação, pai e mãe se despediam dos filhos para uma última e indesejada viagem. O trem, atrasado, não chegava e Seu Teodoro estava impaciente. Foi então que se dirigiu aos inconsoláveis Ambrósio e Lucinda na tentativa de apaziguá-los na resignação:

_ O quê?! Podem ir. Quando e se nós voltarmos, voltaremos.

E o trem apitou lá no horizonte verde claro que, entretanto, também já se expedia.

 

A. R. Falcão - fevereiro de 15

 
ESSA COISA ESTRANHA


Na água,

Nas nuvens,

Tua mão e

A minha;

O amor de ser.

O pão,

A mesa e a brisa.

A árvore,

Os passarinhos,

O mar,

O branco e o negro da lua.

Para de novo termos as formiguinhas

No açucareiro.

 

A. R. Falcão - fevereiro de 15