UM VERÃO
Aquele gato enuncia sua ária
Pelo fim da tarde.
E a melancolia embala a preguiça do arbusto
Cujas folhas gordas se transformarão em abacates.
As rolinhas desfilam nas calçadas
Para, em breve, dormir como galinhas.
Os últimos pássaros serão os primeiros morcegos.
Pessoas sem sombras se desfiguram
Nos fantasmas que chegarão aos subúrbios distantes.
A lua cheia começará a render o sol em chamas.
E o calor da noite se encarregará
Dos últimos pontos na costura de pesadelos.
Por fim,
O mar, pouco a pouco, se ocultará em seu véu de breu.
Em meu silêncio, mais uma vez,
Apagarei as luzes.
Salvador, janeiro de 2014