sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

UM VERÃO

 

Aquele gato enuncia sua ária

Pelo fim da tarde.

E a melancolia embala a preguiça do arbusto

Cujas folhas gordas se transformarão em abacates.

As rolinhas desfilam nas calçadas

Para, em breve, dormir como galinhas.

Os últimos pássaros serão os primeiros morcegos.

Pessoas sem sombras se desfiguram

Nos fantasmas que chegarão aos subúrbios distantes.

A lua cheia começará a render o sol em chamas.

E o calor da noite se encarregará

Dos últimos pontos na costura de pesadelos.

Por fim,

O mar, pouco a pouco, se ocultará em seu véu de breu.

Em meu silêncio, mais uma vez,

Apagarei as luzes.

 

Salvador, janeiro de 2014