NO TANQUE
A faina vã na afronta
Às manchas que ferem a vestimenta,
Que se deixa hospitalar,
Molhar e entregar-se às mãos
Na busca tosca de um imaculado
Eterno retorno,
Ao que terá sido um dia
Meu rosto em tecido engomado.
Minhas mãos na infância
De tecer-me empertigado,
Bem posto e tolo,
Afogado no lago opaco
Do sabão do tempo.
Num dia qualquer, de um mês qualquer,
Nos anos velozes que me não esperam.
O sal na boca ferida.
A CAMA DESARRUMADA
Na luz do feriado
Que atravessa o travesseiro,
De norte a sul, de leste a oeste,
Há um homem
No amassado do tecido.
Ou na luz mesmo?
Ninguém sabe.
Talvez ele. Quem sabe?
Entretanto, ali, existiu
Em noites antigas,
Em vez de luz, calor,
A pré-história da iluminação.
E tudo começava como os cupins
Que comem pacientemente as portas,
Que se abrem e recebem
Os braços abertos desse homem
Que, um dia, desejou
Em outros feriados e luzes,
No mesmo travesseiro e peito.
Assim:
No lago plácido de quem, uma vez, amou em paz.
A.
R. Falcão – abril de 2013