sexta-feira, 17 de junho de 2011

segunda-feira, 13 de junho de 2011






ISTO ÀQUILO

Prefiro olhar a falar, ter que articular. Prefiro silêncio a voz, ter que ouvir. Prefiro distância a proximidade, ter que usar lupas. Prefiro desafinadas a cordatas, ter que confrontar. Prefiro ausentes a estridentes, ter que fugir. Prefiro insuficiência a exuberância, ter que desvencilhar-me. Prefiro de "ouvir dizer" a constatar, ter que conferir. Prefiro indícios a provas, ter que comprovar. Prefiro imaginar a ver, ter que despertar. Prefiro representações a realizações, ter que tocar. Prefiro fotografias a decepções, ter que verificar. Prefiro o definitivo ao inesperado, ter que arrumar. Prefiro usadas maduras a virgens nubentes, ter que pedir e ensinar. Prefiro o cheiro ao tato, ter que chegar. Prefiro dormentes a acordadas, ter que cumprimentar e paparicar. Prefiro saciadas a famintas, ter que alimentar. Prefiro esquecidas a memoráveis, ter que lembrar. Prefiro desconhecer a reconhecer, ter que perguntar. Prefiro comprar a seduzir, ter que mentir. Prefiro mortas a vivas, ter que enterrar. Prefiro inexistentes a presentes, ter que desejar. Opto por ignorar a preferir, ter que escolher. Prefiro não preferir a agir. Recolher-me à desclassificação, à indistinção, à dormência, à dissolução e à invisibilidade. Deixar como está, vagar em órbita infinita, na paz do sem-tempo eterno. Ou desaparecer na gravidade do violoncelo.