ESSE POVO
Faz algum tempo que sinto tomar-me a sensação de que sou irremediavelmente antiquado e que estou convictamente na contramão. Enumero algumas de minhas incompatibilidades com o tempo hodierno:
1. O barulho de todos os lugares em suas múltiplas formas: músicas, falas e máquinas. Todas insuportáveis e insalubres. Nem música é; nem fala é, mas percurssão e balbucio recheado de "porra, caralho".
2. Quaisquer manifestações humanas ocorrem em manadas de bovinos: vestimentas, penteados, visitas a museus, cinemas, esportes, eventos de toda ordem, preferências culinárias, manifestações de protesto, redes sociais. Usam o termo tribo para o que, de fato, é turba burra.
3. Tudo começa de mansinho e logo vira mania de manadas com seus respectivos pregadores, por exemplo: bicicletas (os bovinos preferem bike) e comida orgânica (ou qualquer coisa assim).
4. Difícil é ver, nas ruas, pessoas sem apêndices eletrônicos de toda espécie ou sem conectividade patológica, portando coleiras elétricas: o celular.
5. Pensar consigo e em silêncio está desaparecendo. As pessoas dedilham aparelhinhos.
Tudo disso é consequência e traz consequências. Ninguém quer pensar, ninguém está interessado. Querem ser iguais entre iguais. Quanto mais pretendem se tornar visíveis por inúmeros artifícios mais mergulham na mesmice daqueles que não enxergam o que está em sua frente, com exceção, é claro, da tela, do teclado e do fone de ouvido. Eu, sem nenhuma tristeza, sou uma desordem assente. Prefiro nunca sair de casa. Podem ir, que não vou. Silêncio, por favor.