- O que essas mulheres tão velhas estão fazendo
aí?
Numa ensolarada manhã de sábado, bebia uma
cerveja em espaço aberto, só, em frente ao Parque da Água Branca. Por perto,
estavam três rapazes. Comprazia-me em apreciar as árvores do outro lado. Do
lado de cá, mulheres garis faziam seu trabalho, enfiadas em seus uniformes.
Eram velhas senhoras, o que me surpreendeu inicialmente, para instantes depois,
revoltar-me e comover-me ao mesmo tempo.
Em tom de brincadeira, comentei com os rapazes
próximos: “Elas bem que poderiam ser nossas avós”. Eles riram, mas eu não. E as
“avós” seguiam arrastando vassouras, como se em fila estivessem. Não eram
pessoas fáceis de definir, aquilo beirava o absurdo. Para trabalho tão pesado,
é comum serem contratadas pessoas fortes e jovens.
Eram montes em linha; velhas, uma atrás da
outra. Até que, seguidas assim, já eram folhas secas, papéis sujos e embolados,
guimbas, confundiam-se com o que varriam. Por preguiça, o vento não as
espalhava. Amontoavam-se por desejo de que uma embalagem plástica e preta as
ensacassem.
Do saco ao ônibus; do ônibus ao trem; do trem à
linha; da linha à terra batida; da poeira ao catre, ao desabraço do suspiro do
“seja o que deus quiser”. Então, ainda na noite escura, eram, mais uma vez,
acordadas por alguém: “Tá na hora, mãe!”. Se vivas ainda estivessem.
O que aquelas senhoras tão velhas estavam fazendo
ali, meu deus?!