sexta-feira, 25 de abril de 2014


MAIS AINDA AINDA MAIS

 

Tudo conspira.

Se você tiver,

Como tenho a página,

A ideia mais tola e prosaica:

A flor.

Saiba que dela não terá

O consolo: a meta-flor.

Terá, se muito, a página

Que o espera, farta

De sua miséria.

Olhe em frente:

Não terá o mínimo,

Nem o branco.

O nada é uma metáfora

Vaga e pedestre

De alguém que ainda vaga

Catando tique-taques nos relógios quebrados,

Na mão, nos dedos, no que caiu

Ou saiu. O pó.

Agradeça às moscas, às baratas,

Aos pequenos que insisto em matar.

E durma a noite

Das nuvens sem noites.

Agradeço de muita má fé.

Falcão – abril de 2014

quinta-feira, 24 de abril de 2014


CRIPTOGRAFADO 

“Como tem sido triste a vida nesses anos todos”.

Eleanor Marx (a filha - bilhete de suicídio)

 
Há um momento na vida,

Muito cedo ainda,

De difícil determinação,

Em que nos autocriptografamos.

Depois,

Jogamos a senha ao mar.

 

Sob esquecimento,

Tantas coisas brigam:

As fechaduras que se quebram,

As chaves que se perdem.

Pior ainda:

Trava o ombro que, maestro,

Rege os varais das roupas brancas

Com que me não enterram.

Na madrugada,

Amanteigo o pão

Que me jogará às capivaras

Fedendo que fedem

Ao longo de todas as manhãs,

Nesses anos em que o Brasil

Afunda no escuro do escuro.

Retroverso, sorridente.

Falcão – abril de 2014

MUDA BRASIL!

Geringonças I

Graças às Jornadas de junho/13, o Congresso-2015 ganha esses novos parlamentares. Não se pode perder as esperanças. Por uma cidadania sustentável! A verificar:

Bancada da Base Aliada

Esgoto Canoro

Latrina Falante

Travesseiro de Jacaré

Cu de Abacaxi

Mimo de Sucuri

Viúva de Elevador

Pirão de Onça

Chamego de Bueiro

Beijo de Capivara

Angústia de Parafuso

Clamor de Maritaca

Perfume de Jaca

Câncer de Unha

Ousadia de Cuspe

Raiva Engarrafada

Ronco de Aranha

Pachorra de Lesma

Lençol de Sacristia

Tristeza de Abajur

Carrapato de Urubu

Águia de Circo

Insônia de Nuvem

Víran do Ipiranga

Besouro Espírita

Acorda! Escova os dentes, Brasil!

terça-feira, 22 de abril de 2014


EXEQUIAL

 

Isso é isso,

Outra coisa é aquilo.

Se assim não fosse,

Que coisa seria isso

Senão outra coisa?

E, portanto, ambos,

Como coisas são,

Não custaria nada

Que isso fosse aquilo

E não, outra coisa.

Assim ninguém briga

E o jantar será servido

Para gáudio de todos

E a felicidade final

Do saudoso falecido.

LEMBRETE

 

É bom não esquecer:

O homem só é interessante quando cria algo significativo. De outro modo, é um maçante mamífero que come, dorme, defeca e se deixa escravizar – quando não furta, rouba, mata e ora por uma divindade qualquer.

Por fim, as sordícies modernas: manadas inclinadas sobre maquininhas, consumo patológico, caras bicicletas nas calçadas, veículos motorizados entupindo todas as vias, estridências de todos os tipos (o que eles chamam de música, afasia, gritaria, gargalhar de araras bêbadas...).

Prefiro não sair de casa; pelo menos, ali, sozinho, no silêncio, o único bisonho sou eu.