terça-feira, 8 de setembro de 2009

METEOROLOGIA

Caneta inútil entre os dedos
Ou sobre o cobertor de lã,
Que aquece um frio besta de verão.
Como terço na mão de antigo laconismo.
Minha mão que a move em vago de dúvidas
E más lembranças.

Começa assim: um mormaço sufocante
Sobre os passos que não querem um fim propício.
Calor intransponível.
Uma pausa e a caneta na mão
Que constroi desenhos tolos
De um pensamento mais tolo ainda.
Outra pausa para a exaustão
Dos passos. Um cansaço das paredes
No lar velho:
Conversas e convivências
Proibidas, esquecidas
Nos desvãos das contas.
O VOO DA RELATIVIDADE DAS COISAS

Só a bondade supõe, por condição, a traição. A maldade não. A primeira pode se quebrar, por estar apoiada em código de valores morais. A segunda se institui num código de conduta contratual, oportuno. Contingencial. Assim, a desonra atinge o bom, não o mau. Este está fora dessa dimensão, que é a da fragilidade. O homem mau é bruto; a delicadeza lhe é insuportável. Ele é coerente e sólido.

Destituído de convicções morais, ele é um homem de ação, pragmático, com um fim em mente. Este atingido, segue em frente para outro, que é sempre o mesmo: a vantagem primeira, a vantagem seguinte e assim por diante. O homem bom flutua, instável em valores que são como asas (humanamente construídas). Frágeis como a engenharia de sua concepção. Pode se quebrar, cair como o avião, pode trair. O homem mau se desinteressa; muda suas táticas ao soprar dos ventos. Ele não tem valores, tem tratos voláteis. O homem mau não decola, por isso nunca cai. O homem bom é fundo; o mau, raso. Nelson Rodrigues dizia algo como: só o amigo é capaz de trair; o inimigo jamais.

Desconfie de um homem bom; nunca, de um homem mau. Você já sabe quem este é. O bom é uma incógnita. Um perigo. Confiar num homem, imaginando-o bom, é o maior dos enganos. É, por suposto, um duplo erro. O pássaro é outra coisa. O pássaro é bonito.