quinta-feira, 24 de agosto de 2017


A FUGA

Vi todas essas árvores crescerem,
Florescerem e desfolharem.
Vi os pássaros nascerem e morrerem.
Fui amigo de todos os cães vadios
Que serviam-se de meu sangue
Excedente.
Até que, um dia, desapareceram,
Como todos os vizinhos.
Aí, os insetos secaram
E o dia nunca mais nasceu.
A noite em mim adormeceu.
Por fim, nunca mais sonhei.
Deixei-me tomar por um mar
De memórias
Dos outros; de mim
Ninguém mais se lembra.
Trilhos se rebelaram
E o trem voltou pra casa.

terça-feira, 22 de agosto de 2017


MORTE

Terás teu tento
O campeonato é teu.
Tudo sorrirá por ti.
Dormirás na grama
E o céu abrirá as portas.
Depois ficarás nu,
Saberás teus limites
E não procurarás um médico.
Sabes que vais morrer
Tão logo o sabiá entrar
Em cantos roucos,
As visitas começarem a chegar
Em peso.
Então, alertarás:
Todas as cobras estão soltas,
Os gatos, mortos,
As gavetas das facas, abertas
E teu legado são as avencas
Abertas. E morrerás por fim.
O portão fechado num não.