quarta-feira, 1 de março de 2017


UMA NOVA MODALIDADE
Um brasileiro anônimo apresentará, em fevereiro próximo, um projeto ao Comitê Olímpico Internacional. A ideia surgiu após caminhadas por calçadas paulistanas e baianas. Consiste em "chute à pedra", o nome do novo esporte. A pedra é colocada num pavimento de concreto, deve ser de tamanho grande. O atleta se põe diante dela e, com toda força possível, procede aos chutes, dedão à frente.

A pontuação ocorre de duas formas: medição do deslocamento da pedra e número de chutes efetuados. A premiação também se dá de duas formas, à escolha do atleta: amputação grátis do membro dilacerado ou duas semanas em Caracas com tudo (nada) pago e direito a cesta básica. O brasileiro criativo espera obter sucesso com apoio de paulistanos e baianos.

REMETENTE

As dobradiças das portas
E janelas
São novas.
A grama está aparada.
E as azaleias estão floridas.
As laranjeiras, carregadas.
Não há tiriricas na calçada,
A rua foi varrida e eu,
Estou no telhado, com binóculos:
O trem não chegou, não há ônibus.
Correio não há.
Mas a casa,
Agora, mais uma vez,
Será fechada, quando já foi.
Tudo será "há muito tempo",
Porque vou dormir
Em direção incerta,
Em travesseiro amorfo,
Num homem difuso,
As cortinas abertas.


PARTI PRIS

A mão não deveria
Estar aí
Visto que passageira
No furacão dos dias.
Aí é a pedra,
Senhora dos tempos.
Por cima ainda,
É mole a mão,
A rocha não,
É compactada pela vez,
Lastro em assegurada serventia.
A mão é flutuante,
A pedra é permanente
Em seu soberbo sossego.
A mão é volúvel,
Furta, bate
E, quando afaga,
A aleivosia mais quer que dá.
A pedra, em seu silêncio, escuta
E lacra os mais incofessáveis segredos.
Sussurre seus amores improváveis.
A mão finda,
A pedra não,
Sela o que jaz apodrecido.
É sobre ela que
Rezam os homens das perdas
Entristecidos.