segunda-feira, 28 de abril de 2014


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A SINA

 

Seu travesseiro é feito de ferro

Tramado a frio,

Com mãos que, por fim,

Esfacelam-se.

Lagartixas ficam de molho

No sabão em pó.

Alegram sua cozinha,

Sua cotidiana intensidade.

Bebe coisas  de que o Cão

Suspeita e sugere.

E abre o peito

Para aquilo que o fere.

Vai para o mundo,

Para dissipações.

A sombra de um fidalgo

Que pisa perigos medonhos.

Depois, não adormece,

Não come, não lembra,

Não sabe, nem quer saber.

Bebe águas e pensa triste

No mel que não lhe foi servido.

Paga o que não devia

E divaga na baba muda,

Entre sacos e sonhos não sonhados.

Lê sem fim.

Parece que nunca dorme, nunca amanhece.

A GRAÇA DA COISA

 

As armadilhas da paisagem além da janela:

 1. A intransigência interpretativa, a polissemia e a fluidez da coisa. Bastões e lanternas, cães farejadores e facões são inúteis.

2.  A caravana que a procura produz também o que a faz cindir-se. E dispersar-se nos caminhos que constrói.

3.  Na busca, a coisa que se procura nunca está no lugar de onde ela sempre foge. O que é procurado não é para ser encontrado. É para fazer procurar.

4.  O que se esconde é matreira jogadora. No jogo, ganha quem se mantém, por mais tempo, na mesa.

5.  Vaga a esmo quem se enrijece. Pedra não é materialidade de amador. É para sábios ausentes. A rigidez faz posar, fingir e autoiludir-se em logomaquias funestas e autorreferentes.

6.  O melhor caminho é o que faz silenciar e esperar aquilo que nunca vem. Mas não há um só caminho, não há coisa em suma. Há insistência, persistência e paciência infinitas no íntimo do curioso que busca saber.

7.  Não vai saber. E disso ele sabe desde sempre.