quarta-feira, 27 de agosto de 2014


             YPÊS DAS AMARELAS

 


Nesta atordoada cidade,

São árvores merencórias:

Depois de farejarem a primavera,

Oferecem em sacrifício

Seus iluminados cachos gemados

No altar úmido

Das primeiras chuvas

De setembro,

Para depois e logo desaparecerem.

Os paulistanos são as crianças

Cujos sorvetes dourados

São roubados

De suas inconsoláveis retinas.

 

fim de agosto

segunda-feira, 25 de agosto de 2014


                  A TAL OCASIÃO

 

                                                                                                                                                                          Lucian Freud
Venho sendo imune

Às doenças oportunistas.

Há 35 anos. É prosa.

Não sou imune à morte,

Mas só até a última rendição,

Que morto estarei. 

É poesia.

Gosto de mim até um certo ponto.

Além dele, observo as pedras.

Elas me fazem silenciar por dentro.

É poesia.

O silêncio me ensina o tempo

Que cada um tem. A sua cota,

O seu escuro - o bom escuro. É poesia.

A noite dorme, em meu lugar,

O incontornável poente. Sou animal.

É apenas o tal fim. É poesia.