quarta-feira, 26 de março de 2008

PARA PENSAR TODOS OS DIAS

Rubem Braga foi dos escritores que mais amei. Tinha especial admiração por um verso de Camões que julgava dos mais belos da língua portuguesa: "A grande dor das coisas que passaram."
Já velho, doente e amargo, este verso deve ter-lhe povoado insistentemente os pensamentos. Mas foi capaz também de escrever o que abaixo segue; a meu juízo, das coisas mais belas já escritas sobre o fim inevitável de todos nós e a nossa real desimportância:

"Hoje venta noroeste, amanhã é lua cheia. Depois virão outras luas e outros ventos, mas isso também é fútil. Pois um dia as luas podem girar no céu e os ventos rodarão na terra com meiguice ou fúria, e isso não te importará, como, também, tudo o que foi. Por que, então, te afliges, agora? Que a brisa do mar invente espumas, e depois venham as chuvas frias, o sol e depois no céu limpo suba, imensa, a lua - não penses que isto tenha nada a ver contigo. Não existes. Nada tem a ver contigo."

Para mim, esta é a oração mais honesta que um ser humano (crente, ateu, agnóstico, tanto faz) deve fazer todos os dias. É aí que a coisa inominável está - a mais sincera melancolia nem sequer tangencia.