PARA PENSAR TODOS OS DIAS
Rubem Braga foi dos escritores que mais amei. Tinha especial admiração por um verso de Camões que julgava dos mais belos da língua portuguesa: "A grande dor das coisas que passaram."
Já velho, doente e amargo, este verso deve ter-lhe povoado insistentemente os pensamentos. Mas foi capaz também de escrever o que abaixo segue; a meu juízo, das coisas mais belas já escritas sobre o fim inevitável de todos nós e a nossa real desimportância:
"Hoje venta noroeste, amanhã é lua cheia. Depois virão outras luas e outros ventos, mas isso também é fútil. Pois um dia as luas podem girar no céu e os ventos rodarão na terra com meiguice ou fúria, e isso não te importará, como, também, tudo o que foi. Por que, então, te afliges, agora? Que a brisa do mar invente espumas, e depois venham as chuvas frias, o sol e depois no céu limpo suba, imensa, a lua - não penses que isto tenha nada a ver contigo. Não existes. Nada tem a ver contigo."
Para mim, esta é a oração mais honesta que um ser humano (crente, ateu, agnóstico, tanto faz) deve fazer todos os dias. É aí que a coisa inominável está - a mais sincera melancolia nem sequer tangencia.
quarta-feira, 26 de março de 2008
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Um comentário:
Olá Falcão
Também gosto do Rubem Braga.
Tenho entrado sempre no seu blog.
Você ganhou uma leitora assídua.
Se cuida e até breve!
Ana Cristina Venancio
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