DE NOVO, O MESMO
Como é de conhecimento e tédio de alguns todos, não há consolo: a juvenilidade é menina dos olhos das empresas, que vê aí ambição, arrojo e competitividade. A promessa de ascensão funciona como a cenoura presa à vara, nas fuças da mula ("Crescer com a empresa!" - "Só nos interessa mão de obra com valor agregado" Argh!). Não falam língua portuguesa, tagarelam por clichês - sinal ostensivo de imbecilidade empavonada.
Lembro-me de uma declaração ou citação de Milan Kundera: [Tamina chega a uma ilha deserta onde só há crianças. No final, elas a perseguem até matá-la.]
"E talvez toda a nossa era técnica faça isso, com seu culto do futuro, da juventude e da infância, sua indiferença ao passado, sua desconfiança em relação ao pensamento: no seio de uma sociedade implacavelmente juvenil, um adulto dotado de memória e ironia se sente como Tamina na ilha de crianças".
Geralmente, nessas instituições, ao se dar poder a um certo tipo de jovem contemporâneo, o que se vê? Apenas a compenetração e arrogância dos que ainda não chegaram às sabedorias de ofício, que só o longo da experiência favorece. Rifam-se aqueles com mais de 50 anos. Nem por isso a maturidade é garantia de competência; pode ser apenas amparo para a teimosia e obtusidade. Bidu!
Diz o bom senso que descartar ambas as idades seria maluquice. Entre a inexperiência e a inoperância, ficam com a primeira e que se estrepe a segunda; para a primeira, treinamento, MBA, pós-graduação, línguas estrangeiras, aparência, subserviência e toda a tralha. A segunda é matéria fatigada; lixo pra ela.
A receita poderia ser um risoto de preparação, reforma e mútua convivência? Sei lá.
Lamentavelmente, a humildade (palavra vazia, mesmo destituída do ranço cristão) é traço de caráter e isso não se ensina, não se compra, não se encontra por aí, pendurada em cabides.
A maioria das empresas adora pensamento único, vozes em uníssono, gestores com temperamento de sargento ou macios como malagueta cozida, por isso o trabalho moderno se assemelha tanto à "servidão voluntária", à escravidão consentida. Os empregados não se vestem, fardam-se. O traje pretinho multiplicado aos milhares. Rapazes e moças ambiciosos "vestem a camisa". E são tecno-dependentes: não largam o celular, que é o sucedâneo do grilhão de outrora. Discordar? "E... tá pensando o que, meu?"
Na arena, põem-se essa escumalha para se entredevorar ou se consumir numa atividade estafante e embrutecedora. Chamam a isso pró-atividade, competitividade ou horror semelhante.
John Lancaster, editor do London Review of Books, disse o seguinte sobre as grandes empresas varejistas:
"Muitas tratam seus empregados como uma commodity. Pagam tão pouco quanto possível, treinam tão pouco quanto possível e empregam o menor número possível. Às vezes, parece que a gerência usa uma fórmula: descobre o nível mínimo de empregados para que a loja funcione, depois subtrai 20%".
Jay Bookman, vice-editor de primeira página de The Atlanta Journal-Constitution:
"O capitalismo funciona tirando o melhor de nossa ganância; falha quando deixamos a ganância tirar o melhor de nós".
Gestão corporativa (management) é um filme B, que desperta os piores pendores. E está nas telas de todos os monitores onipresentes, das quais os olhos infra-humanos não se descolam. "Viva o futuro! E desocupar a área, dispersando, vamos circulando aí!".
domingo, 2 de agosto de 2009
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