O VOO DA RELATIVIDADE DAS COISAS
Só a bondade supõe, por condição, a traição. A maldade não. A primeira pode se quebrar, por estar apoiada em código de valores morais. A segunda se institui num código de conduta contratual, oportuno. Contingencial. Assim, a desonra atinge o bom, não o mau. Este está fora dessa dimensão, que é a da fragilidade. O homem mau é bruto; a delicadeza lhe é insuportável. Ele é coerente e sólido.
Destituído de convicções morais, ele é um homem de ação, pragmático, com um fim em mente. Este atingido, segue em frente para outro, que é sempre o mesmo: a vantagem primeira, a vantagem seguinte e assim por diante. O homem bom flutua, instável em valores que são como asas (humanamente construídas). Frágeis como a engenharia de sua concepção. Pode se quebrar, cair como o avião, pode trair. O homem mau se desinteressa; muda suas táticas ao soprar dos ventos. Ele não tem valores, tem tratos voláteis. O homem mau não decola, por isso nunca cai. O homem bom é fundo; o mau, raso. Nelson Rodrigues dizia algo como: só o amigo é capaz de trair; o inimigo jamais.
Desconfie de um homem bom; nunca, de um homem mau. Você já sabe quem este é. O bom é uma incógnita. Um perigo. Confiar num homem, imaginando-o bom, é o maior dos enganos. É, por suposto, um duplo erro. O pássaro é outra coisa. O pássaro é bonito.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
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