quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

UM OUTRO RECORTE DE BELEZA

De Jorges Luis Borges, em O Outro, o Mesmo, da Companhia das Letras, 2009.

Ao Filho

Não sou eu quem te engendra. São os mortos.
São meu pai, o pai dele e os precedentes;
são os que um longo dédalo de amores
traçaram desde Adão e dos desertos
de Caim e de Abel, em certa aurora
tão antiga que já é mitologia,
e chegam, sangue e âmago, a este dia
do futuro, em que te engendro agora.
Sinto sua multidão. Somos nós dois
e os dois, reunidos, somos tu e os próximos
filhos que engendrarás. Os derradeiros
e os do vermelho Adão. Sou esses outros,
também. A eternidade está nas coisas
do tempo, que são formas pressurosas.

tradução de Heloisa Jahn

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