quarta-feira, 17 de agosto de 2011





MUITO DIFÍCIL - NÃO GOSTEI!




a Laerte




Na arte, a complexidade deve se fazer oculta ou discreta; nunca ostensiva, que revele a exibição aparatosa e incontida. Essa fica para amantes de referências cifradas e outras bobagens.

Por outro lado, a simplicidade é, na maioria das vezes, apenas aparente. Penso em Bandeira e João Gilberto. A beleza que nos encanta de quase pronto vem de sua força ou intensidade. Há muita confusão: toma-se o tosco como simples, e o juízo do belo adota, assim, o não-lapidado, o assemelhado à natureza como equivalente do bem-realizado, esquecendo-se que a arte pressupõe artifício, lapidação em suma.

Há obras que são de grande complexidade, no entanto, estas não se fazem complicadas a ponto de desarranjarem a fruição, tornando-se um desprazer que, mesmo depois da necessária insistência, permanecem intratáveis. Penso em Finnegans Wake. Ora, é também desse jogo o estranhamento, o mistério que pede alguma paciência para se dissipar. Penso em Francis Bacon e Lucien Freud. De outro modo, passaríamos a vida a ouvir canções de ninar, apreciando unicamente as formas naturais. E ambas têm seu lugar e momento.

Na arte, o complexo se afasta do complicado, para não dizer "se opõe", e nem se confunda o difícil com a complicação exibitória, que é fanfarronice. É só pensar num texto antigo, numa obra de cultura, para nós, estranha. Elas são tão somente difíceis - gostosamente difíceis. Penso em Bashô. Uma "viagem" e tanto.

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