segunda-feira, 17 de outubro de 2011


A CANETA TINTEIRO

in memoriam de Orson Wells

O fio delicado que ora vaza
Entre meus dedos,
Na tinta, desde a meninice,
Faz de minha pena
Perversa a memória.

Ela me deu a alegria
Da passagem
Das calças curtas aos cambitos ocultos.
Pernas que faltavam,
Não compareciam,
Não se tornavam.

Esse trenó que desliza
Sobre o branco da página
Não me traz Rosebud*,
Abre-me a outras penas.

As de todos os pássaros
Que um dia voaram
Para sempre,
Sem volta,
Para o horizonte,
Na terra redonda da infância.

(em homenagem a minha primeira caneta tinteiro, nos cinquenta de meu quarto ano de grupo escolar. Usei aqui uma outra, nova, mas da mesma marca)

* Rosebud, para quem não sabe, é o trenó de Cidadão Kane, célebre filme de O.W. Brinquedo querido de sua infância - a âncora e perda mais irreparável.

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