sexta-feira, 30 de setembro de 2011

SOB A PORTA

a meu filho em seus 18 anos

Deixo-lhe isso.
Não quero o fácil
De pedro-pedra.
Quero o mistério das águas
Que o arredondam.
Quero as águas,
Curvas que me escaparam.
E as perdi - pedro-perda.

O que tive passou
Por passar de existir assim.
Olho o inseto esperto
Que voa sob meu olhar;
Os anos contados
De sua plenitude passando.
Os afastamentos vindos e vindouros.

As nossas trocas de solidão.
Seu voo, meu assento diáfano,
Minha evaporação.

Quero o repouso dos risos esquecidos,
Das frutas que comi. Comemos.
E, contudo, não soube amá-las
De fato.
Adormeci. Esqueci.
Adoeci. Escrevi.

Quero a janela que se abre ao travesseiro.
Ainda assim, aproxime de mim
A sombra que me espera.
Seu silêncio,
O melodrama que se afaga
No mingau de todo hoje-à-noite.

As más falas,
As más e todas as boas lembranças.

setembro/outubro de 2011

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