"TÔ NEM AÍ"
"O homem não é antes para ser visto depois, mas ele é o ser cuja essência é existir para o outro". J. P. Sartre
Talvez seja um juízo algo hiperbólico, ainda assim...Adequar o comportamento ao espaço e ao tempo devidos é requisito incontornável da vida civil. A hiperconectividade digital de nossos tempos é o passo para sua degradação. A pessoa nunca está onde está seu corpo. Este divórcio perverso é prenúncio de muita coisa grave. Assim, a inadequação é regra em nossos dias. E tudo fica pulverizado, a começar das relações pessoais - agora não-presenciais.
Daí seguem o mau comportamento nos locais públicos (a rua, o restaurante, o cinema, a sala de aula etc.). São os chimpanzés de dedo no teclado e olhos na telinha, sem enxergar nada em volta. O outro empírico é, então, um estorvo para os egos inflados em tamanhos jamais vistos.
A vida civil que supõe o respeito ao outro (ora, este precisa sempre ser visto e considerado) caminha celeremente para a derrocada. Ninguém está onde parece estar. O corpo físico não passa de um espectro. O professor quando exige respeito e pede atenção está sendo apenas ingênuo e antiquado. Em tempos de barbárie, é outro o proceder. Ou, melhor, é desaparecer.
Visões Afins:
Stephen Marche em “Is Facebook Making us Lonely?” (apud João Pereira Coutinho):
“A internet, e as redes sociais que ela comporta, é apenas um instrumento para, não um substituo de. O desafio, leitor, não está em quebrar o aquário. Está em sair dele de vez em quando.
Sair. Desligar. Não estar disponível. Ou como escreve S. Marche, ‘termos a oportunidade de nos esquecermos de nós próprios’.
Eis, no fundo, a observação mais luminosa do ensaio: a nossa constante disponibilidade para os outros é apenas uma manifestação mais profunda de nosso insuportável narcisismo. E o narcisismo, como sempre, nasce de uma insegurança que procuramos preencher com o culto doentio do ego.
Pensamos que somos tão imprescindíveis que temos de estar presentes 24 horas por dia na vida alheia. E vice-versa: pensamos que somos tão importantes que os outros têm de estar permanentemente disponíveis para nós (J.P. Coutinho).
Norman Doidge (O Cérebro que se Transforma), psiquiatra canadense, em entrevista:
A interatividade do computador altera o cérebro para o bem ou para o mal?
Desconfio que mais para o mal do que para o bem. Os equipamentos eletrônicos são tão compatíveis com o nosso cérebro, que também é movido a eletricidade, que alteram a nossa atenção, tornando-nos viciados em tecnologia. O vício é um fenômeno plástico e não se aplica só às drogas. Pessoas se tornam viciadas em corrida, em jogo, em compras, em paixões. O homem supõe que controla os dispositivos incríveis que criou. Meu temor é que esteja acontecendo o contrário: todo esse aparato tecnológico é que está nos reprogramando. (Veja, 21.XII.2011).
quarta-feira, 18 de abril de 2012
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