quarta-feira, 10 de julho de 2013


AMENIDADES NA BAHIA

            As primeiras impressões, ao conhecer pessoas, se avizinham daquele pano no varal. Depois de torcido, logo esticado e estendido, deixa, ainda aos olhos, rugas e dobras. À medida que seca, se estira e alisa. As impressões iniciais equivalem aos relevos que se aplainam com o tempo. Incertas em seus preâmbulos, confusas e contraditórias, acabam por repousar em juízos mais ou menos provisórios.

 Passado a ferro quente, é como as sentenças definitivas que frequentam as separações litigiosas. Os impressionados e impressionáveis dançam valsas de enganos e desenganos, até se aquietarem em discórdias e confortos.

 É de bom alvitre acautelar-se e observar com cuidado, sem exagero, para que, pouco a pouco, o molho da simpatia e sedução engrosse e chegue ao ponto excelso. Dizem assim os partidários do bom senso, como também, que ódios e ressentimentos fiquem para depois, com datas incertas. E desapareçam em brevidade como recomendam também os serenos de olhar felino e horizontes insondáveis.

 Mas os descabelados têm sua vez. Para maus entendedores, maus exemplos são eloqüentes:

 No meio da festa familiar, os dois pais, conhecidos amistosos, conversam aos gritos, analisando o cenário feminino, ruidoso e juvenil, ao som da suave percussão que enlouquece os vizinhos, balança os quadros, treme o lustre e ferve os quadris:

 - E aí? O que achou daquela debutante ali?
 - Não gostei. Parece uma puta.
 - Nossa! Por quê?!
 - É o “jeitão” dela.
 - E o que tem ele?
 - Olhe a roupa: salto agulha 17, “shortinho” cavado, colante, vermelho, “top” de tule transparente, tomara-que-caia, não usa sutiã, cabelos azuis de corte moicano, brincos de alta tonelagem, maquiagem carregada, batom encarnado, cigarro com piteira “pinke”, o copo de vodka e aquela bolsinha...
- Ora, Oscar! Quem olha pra você, não vê um cafajeste.
- Como assim? Que tenho eu?
- Estampa de cavalheiro moderninho: mocassim italiano de pelica, calças brancas de cambraia, bata bordada, azul celeste, bem barbeado, unhas e cabelos tratados, rabinho de cavalo, colar da mística indiana, modos suaves, um verdadeiro guru do bem. E aí, escondidinho, um tarado! Pois fique sabendo: aquela debutante ali, a que parece puta, é minha filha, tem apenas quinze aninhos, está só feliz, brincando. Você não tem noção!
- ...! Já se levantando.
É... nada visível, redondo e circular é redondo.

A. R. Falcão – julho de 2013

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