AMENIDADES NA
BAHIA
As primeiras impressões, ao conhecer
pessoas, se avizinham daquele pano no varal. Depois de torcido, logo esticado e
estendido, deixa, ainda aos olhos, rugas e dobras. À medida que seca, se estira
e alisa. As impressões iniciais equivalem aos relevos que se aplainam com o
tempo. Incertas em seus preâmbulos, confusas e contraditórias, acabam por
repousar em juízos mais ou menos provisórios.
- Não gostei. Parece uma puta.
- Nossa! Por quê?!
- É o “jeitão” dela.
- E o que tem ele?
- Olhe a roupa: salto agulha 17, “shortinho”
cavado, colante, vermelho, “top” de tule transparente, tomara-que-caia, não usa
sutiã, cabelos azuis de corte moicano, brincos de alta tonelagem, maquiagem
carregada, batom encarnado, cigarro com piteira “pinke”, o copo de vodka e
aquela bolsinha...
- Ora, Oscar! Quem olha pra você, não vê
um cafajeste.
- Como assim? Que tenho eu?
- Estampa de cavalheiro moderninho: mocassim
italiano de pelica, calças brancas de cambraia, bata bordada, azul celeste, bem
barbeado, unhas e cabelos tratados, rabinho de cavalo, colar da mística
indiana, modos suaves, um verdadeiro guru do bem. E aí, escondidinho, um
tarado! Pois fique sabendo: aquela debutante ali, a que parece puta, é minha
filha, tem apenas quinze aninhos, está só feliz, brincando. Você não tem noção!
- ...! Já se levantando.
É... nada visível, redondo e circular é
redondo.
A.
R. Falcão – julho de 2013
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