Habitamos tanto a parte do que fazemos que podemos dizer que somos o que fazemos, bem mais do que dizemos ser. Até aí, não há novidade; isto já foi dito de várias maneiras, em vezes inúmeras. Bem, então o que se pode acrescentar? O que falamos não nos diz respeito? Falar não é fazer?
Posto isso, não sabemos bem quem somos. Talvez sejamos o que os outros dizem. Ou um composto de tudo, sem nada de fato sermos; ou massa de carne sobre ossos que anda, fala, fabrica ferramentas, às vezes escreve, come, defeca e dorme. Se reproduz e morre.
O que somos? Quem somos afinal? São perguntas inconvenientes, porque ociosas, não nos levam a desfazer mistério nenhum, a lugar nenhum, que é bem o nosso lugar, embora sejamos mamíferos territoriais dados a agrupamentos fixados. Já fomos nômades. Não pergunte quem você é, não é, vai se fazendo e se desfazendo até os vermes. E o outro? É o contra-espelho, sem o qual nos perdemos.
Acordar da sesta, depois de praia e comilanças, na Bahia, é bem o que se pode chamar de burrice digestiva, falta de assunto vespertina em sua plena acepção. Quer saber? Vou recolher meus pedaços de sonhos e memórias espalhados por aí, reduzido à minha insignificância e à condição prosaica de um mamífero qualquer. A vida segue, Zé Pereira.
A. R. Falcão - janeiro de 2015
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