quarta-feira, 8 de agosto de 2007

O meu sagrado Jequiriçá

Se você chega à beira do rio,
Está plantado na terra. Um fruto do chão.
Os pássaros estão esparramados no céu da noite desluarada.
Despassarados. Grampos de galhos. Árvores. Mas,
Sabiás são desesperados.

O banho de rio
Começa um frio
Na distração de um grilo,
Que avisa a pedra
Que avisa a água,
Que acorda o limo,
O bem-te-vi,
Uma ponte,
Um pingo de fruta.

Um ventre de segredos.
Um silêncio da luz.

A água do céu então avesso
Desacorda luas e faz despenteada
Uma noite nos nossos braços e mãos.
Avança um peito sobre o liso frio da vida líqüida,
As pernas são remexidas e se abrem sob o desescuro
Vago da brisa sempre antiga.

Uma jibóia de silêncio e ventre
Descobre nosso corpo frágil.
Inunda para sempre
Um mole do entretudo.

A morte é então real.
A vida se deslumbra no pequeno dela.
Ou no grande de um lago reprimido.

No nada nadamos. Já enormes.
Eis então o rio sob nossos olhos.
E por tão pequenos
Que somos nós,
Disformes,
A manhã nos abraça em luz.

Enfim sinistros,
Desnudamos o corpo das águas
Que chuviscam pra dentro,
Que se despedem de
Uma vã sobrevivência.
Uma boca aberta de mágoa
E plena de alma. Alva.

Maldito sabiá. A graça do sabiá.


antonio rebouças falcão

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