O BANQUETE DAS FORMIGUINHAS
Eis a experiência de segmentação: além do que é o funcionamento autônomo do cérebro, quando ele administra todo o organismo ininterruptamente, há, nele, como se sabe, um plano de pensamentos. A segmentação se dá a partir do instante em que experimentamos conviver com seu fluxo ocorrendo à nossa revelia. É frequente em mim, basta colocar os pés na rua.
Limito-me a observar os pensamentos, que não tenho nenhum poder sobre eles. Uma banda carnavalesca e bêbada de minha consciência. Como eles não são nada bons - uma miríade de reprovações a tudo que vejo - em nome de minha sanidade cotidiana, não os levo a sério. Deixo-os povoarem os vazios que inadvertidamente abandonei, como grãos de açúcar largados sobre o tampo da mesa matinal. Incomodam muito porque se ajustam como a água nos desvãos. As formiguinhas não, elas é que são doce alegria em sua faina frenética. E de saber que, para mim, pensar, entre tantos outros prazeres, ocupa poltrona majestosa ...
quinta-feira, 31 de março de 2011
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2 comentários:
Magnífico, Antônio.
Isso ocorre comigo também, mas eu não saberia descrever tão bem.
Resta-me acrescentar.
Tenho, além disso, em vez da "banda carnavalesca" figurada, um trio de zumbidos cujo volume só faz aumentar com o tempo. O único remédio que funcionou causava depressão. Optei por manter o trio, que irrita mas não chega a deprimir.
Tenho ainda outra companhia musical: ouço mentalmente músicas, sempre inéditas e orquestradas. Não ocorre toda hora, às vezes passam meses sem tocar, e não tenho nenhum controle sobre elas. Mas há lugares propiciatórios, como bares barulhentos e ônibus silenciosos (em viagens rodoviárias noturnas).
Abraço
Caro visitante:
Obrigado, Tuca. Espero (desejo) mais presenças. Navegue pelas antigas se for de seu interesse. Um abraço. Falcão
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