sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

CEMITÉRIOS ELEGANTES

Os pequenos gravetos que se espalham pelas sombras, nas tumbas matemáticas, anunciam o que não se está a ver: o leito de morte dos calangos. Onde fica seu cemitério? Eles se adiantam e perguntam sem obter resposta: onde fica a cama final dos tigres majestosos? Em mim, outra permanece: e o sítio mudo dos urubus e gaviões? Calo-me na lembrança de uma busca, a única que me trouxe alento nessas dúvidas vadias: o cemitério dos pombos. Sob os sinos, na laje crua das torres eclesiásticas.

Esquecido do morto, dos homens sei o que todos sabem, até mesmo os bichos: morrem no espalhafato de suas enfadonhas mazelas, sob a indiferença dos discretos e polidos besouros, folhas secas, formigas, abelhas, joaninhas, vespas, lagartixas... Na plana candura de suas substâncias delidas.

Salvador, janeiro de 2012
A. R. Falcão

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