quarta-feira, 29 de agosto de 2012


VAI E VEM




A casa é mãe; a rua é pai.
A casa é piso; a rua, medo.
A casa é voz; a rua, grito.
A casa é terra; a rua, pedra.
A casa é fogo; a rua, lenha.
A casa é farta; a rua, caça.
A casa é farinha; a rua, pirão.
A casa é o mesmo; a rua, vária.
A casa é crença; a rua, dúvida.
A casa é piscina; a rua, enxurrada.
A casa é alma; a rua, corpo.
A casa é osso; a rua, carne.
A casa é fiança; a rua, crédito.
A casa é vadia; a rua, escravidão.
A casa é silêncio; a rua, celeuma.
A casa é sã; a rua, enferma.
A casa é sombra; a rua, incêndio.
A casa é céu: a rua, nuvem.
A casa é cama; a rua, sono.
A casa é água; a rua, sede.
A casa é mansa; a rua, faca.




A casa sou eu; a rua, outro.
Dorme a casa; a rua vaga.
A casa é ponto; a rua, vírgula.
A casa é quase sempre; a rua, nem sempre.




Mas, um dia, em vigília, eu soube um segredo:
Enquanto a casa vaga, a rua dorme.
E a família ferve.

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