quarta-feira, 19 de setembro de 2012

GRANDE DEMAIS

Numa perspectiva temporal, uma sucessão de instantes entre um "desde que..." ao "até que...".

Numa perspectiva orgânica e psicológica, um mover-se sistemático e insistente para uma situação de conforto e acomodação.

Numa perspectiva evolutiva, agir para replicar-se com o(a) melhor parceiro(a). Tudo pela prole.

Numa perspectiva moral, "quem pode mais chora menos" ou "farinha pouca, meu pirão primeiro".

No plano filosófico, a ausência de sentido; um saco furado de insignificações onde são colocados propósitos que se perdem a todo instante em micromortes - os momentos.


Seu Domínio

No plano físico, ações entram em andamento para suprir o organismo de água e nutrientes, num ambiente de equilíbrio térmico. Alternando atividade e repouso. Território da vontade e da racionalidade na obtenção de máxima eficiência.

No plano mental, observações, indagações, reflexões, avaliações e decisões entram em andamento para a satisfação de desejos de amplo espectro na dimensão afetiva. Ainda a busca de acomodação e conforto.


As Zonas Cinzas

Em ambos os planos, a relação chave acontece entre o dentro e o fora. No plano físico, reina o cérebro, o grande gerente. O fora e o dentro se interpenetram.

Aí, a consciência é uma espécie de operária. Esta experimenta a impressão de que o fora é tudo e o dentro é nada, porque invisível, ainda que seja permanentemente sondado (às cegas) e revelado por sensações de prazer e dor. Os canais daquela interpenetração são decisivos por todo tempo considerado: órgãos físicos variados de entrada e saída.

No plano mental, o fora e o dentro também se interpenetram. Aqui, a consciência é uma espécie de gerente incompetente, porque de poder restrito em ambiente de alternância entre certeza, dúvida e ignorância; na tentação permanente de ceder ao autoengano. Fora, ela é cheia e clara.

O dentro é vazio e escuro. Fora de governo. Mais uma vez, reina o cérebro. A inter-relação do fora e dentro aparece nos sonhos. O dentro é também invisível (imperceptível pela consciência); também sondado às cegas por múltiplas sensações de prazer e dor, de nuances inefáveis.

Aqui, Tudo e Nada se confundem: às vezes, dentro parece tudo; o fora, nada. E vice-versa. O jogo de essência e aparência; imanência e transcendência.

Eu e Outro são os dançarinos desse balé obscuro entre infesto e cordial, porque em palcos de medo e segurança. Algoz e vítima em frenético intercâmbio de máscaras.

Num recuo gnoseológico, as zonas cinzas também estão entre os grandes planos físico e mental - "organicamente" articulados e integrados.


Uma pantomima sagrada e abusada de interações: químicas, físicas e psíquicas. E a demasiada interação das interações.

O esforço para conhecer é sempre um exercício de cegueira - vale pelo esforço em si e não por seu propósito. A busca de resultados esclarecedores é vã.

O porto de chegada é vacuidade e melancolia. É quando inventam religiões. Ao mesmo tempo, um perigo e um consolo.


setembro de 2012

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