ENCASQUETADO
Penso que, quando morremos, somos resgatados do
poço escuro pelas memórias alheias. Mas, e se pensarmos que a vida não passa de
uma subtração de lembranças e uma soma de esquecimentos? E que a memória
pavimenta o caminho do berço à cova? Para tudo acabar em pó e nada. De forma
que, quando ainda vivos, o ato de despendermos tanta atenção em nós mesmos não
deixa de ser tão excêntrico quanto aquele afogado que imagina salvar-se bebendo
o oceano. Mal sabe que sucede ao mar seco um deserto. Vida é areia. Beber tanto
para morrer de fome e sede. Inescapável, a areia não sacia. Custa muito sonhar
e imaginar, tanto quanto lembrar. Que nos sirva de consolo apenas viver e
morrer.
maio de 2013
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