O PÁSSARO E O POLEIRO
L. Freud
Num caminhando a galope para uma espécie de
neofascismo (ver a obsessão pelos clichês saúde, eufemismo para
instrumentalização do corpo, qualidade de vida e autoestima), é
sempre bom ficar atento e não esquecer a boa e velha insubmissão.
Prefiro o desvairado ao sóbrio (o normal, o certinho,
o virtuoso). O primeiro é variado, múltiplo, imprevisível, imaginativo,
fantasioso e criativo. O sóbrio é normativo, repetitivo, conformado e
acomodado. Vê-se dominante (organiza exércitos) quando, na verdade, é
mentalmente dominado. O desvairado é inquieto, transformador. O sóbrio é
fixador, ancilosado e rebalsado. Julga-se superior sendo, de fato, o inferiorizado na
mediocridade, em ordem-unida. O sóbrio orienta para o seu bem; o desvairado desorienta para qualquer coisa, qualquer lugar. O
sóbrio sofre de nanismo cognitivo, tem certezas, adoece com a polissemia; o
desvairado se agiganta no vasto oceano da dúvida e das incertezas.
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