A
GRAÇA DA COISA
As
armadilhas da paisagem além da janela:
1. A intransigência interpretativa, a polissemia e a fluidez
da coisa. Bastões e lanternas, cães farejadores e facões são inúteis.
2. A caravana que a procura produz
também o que a faz cindir-se. E dispersar-se nos caminhos que constrói.
3. Na busca, a coisa que se
procura nunca está no lugar de onde ela sempre foge. O que é procurado não é
para ser encontrado. É para fazer procurar.
4. O que se esconde é matreira
jogadora. No jogo, ganha quem se mantém, por mais tempo, na mesa.
5. Vaga a esmo quem se enrijece.
Pedra não é materialidade de amador. É para sábios ausentes. A rigidez faz
posar, fingir e autoiludir-se em logomaquias funestas e autorreferentes.
6. O melhor caminho é o que faz
silenciar e esperar aquilo que nunca vem. Mas não há um só caminho, não há
coisa em suma. Há insistência, persistência e paciência infinitas no íntimo do
curioso que busca saber.
7. Não vai saber. E disso ele sabe
desde sempre.
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