segunda-feira, 28 de abril de 2014


A GRAÇA DA COISA

 

As armadilhas da paisagem além da janela:

 1. A intransigência interpretativa, a polissemia e a fluidez da coisa. Bastões e lanternas, cães farejadores e facões são inúteis.

2.  A caravana que a procura produz também o que a faz cindir-se. E dispersar-se nos caminhos que constrói.

3.  Na busca, a coisa que se procura nunca está no lugar de onde ela sempre foge. O que é procurado não é para ser encontrado. É para fazer procurar.

4.  O que se esconde é matreira jogadora. No jogo, ganha quem se mantém, por mais tempo, na mesa.

5.  Vaga a esmo quem se enrijece. Pedra não é materialidade de amador. É para sábios ausentes. A rigidez faz posar, fingir e autoiludir-se em logomaquias funestas e autorreferentes.

6.  O melhor caminho é o que faz silenciar e esperar aquilo que nunca vem. Mas não há um só caminho, não há coisa em suma. Há insistência, persistência e paciência infinitas no íntimo do curioso que busca saber.

7.  Não vai saber. E disso ele sabe desde sempre.

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