segunda-feira, 4 de maio de 2015


IDOS

Seis besouros no bolso,
Um canivete,
Um bilboquê no ombro
E está condensada a infância
Daquele homem morto ali.

Um espelho pequeno,
Um batom, uma pinça
E uma escova de cabelos na bolsinha cor-de-rosa.
Está compactada a possível  sedução
Daquela mulher estirada ali.

Os dois nunca trocaram palavras,
Mas permutaram olhares,
Em promessa vã,
Naquela parada de ônibus,
Naquela tarde vazia de domingo.

Ninguém esperava o brusco fim de tudo,
Esperava o traslado, esperava o afago,
O conforto da sopa quente e o amor do nunca.
O atropelamento faz, da morte,
O desvelo sinistro do acaso permanente.


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